Entrevista da Semana

Amarildo e sua representação pela Guarda Civil Municipal

Cidade
Guaíra, 4 de março de 2018 - 12h24

Amarildo Aparecido dos Santos, 52 anos, divorciado, pai de Adriano, 25 anos e Ana Beatriz, 10 anos. Barretense de nascimento, mas desde 1987 trabalha na Guarda Civil Municipal de nossa cidade. Dentre as suas paixões estão os filhos e o amor pela Farda. Sensível, inteligente e humilde, se orgulha em falar da GCM e deixa registrado que segue os preceitos aprendidos na roça de onde veio. Reverencia também os colegas de serviço e afirma que a Guarda é uma corporação comunitária, que só existe por causa da população de Guaíra.

Como surgiu a vontade de servir na Guarda Municipal?

Eu era segurança de Banco, tomei conhecimento do concurso para formar a Guarda Municipal em Guaíra através da imprensa de Barretos. Como eu já atuava na área interna de segurança resolvi prestar o concurso e passei.

 

Você gosta deste serviço?

Sou apaixonado pelo que faço. Há um respeito muito grande entre a guarda e a população. Tudo isso porque sempre trabalhamos na legalidade. Nós não inventamos ocorrências, não inventamos situações dentro de uma ocorrência. Se apreendemos cinco gramas de drogas, são estas cinco gramas que serão apresentadas ao policial. Nosso trabalho é assim. As pessoas veem o trabalho sério da GCM. Com este serviço, mesmo nos envolvendo com bandidos, quando se dá uma palavra para a pessoa, tem que cumprir, independentemente de quem for. Uma palavra do guarda, numa audiência, no Fórum, pode ou não colocar uma pessoa na cadeia. Se prende alguma pessoa em flagrante, automaticamente se vira uma testemunha de acusação. Então, tem que trabalhar com a cabeça tranquila, respeitando o direito das pessoas, para não gerar uma situação que vai atrapalhar a família daquela pessoa que nem está envolvida no crime. Por outro lado, tem que se traduzir na íntegra o que ocorreu naquele local.

 

Qual foi o fato mais marcante nestes 31 anos de serviço?

Infelizmente, o que nunca me sai da memória foi um fato chocante: um incêndio que vitimou duas crianças e uma senhora (muito emocionado). Eu tinha passado em frente à casa onde ocorreu o incêndio um pouco antes porque estava vindo de Barretos, de ônibus. Estava tudo normal.  Depois de uns 20, 25 minutos tocou o telefone informando que havia um incêndio em uma casa e que parecia que tinha pessoas dentro. Corremos para lá, levamos o caminhão pipa, mas na hora em que chegamos já estava explodindo as telhas. Fui um dos primeiros a chegar, mas não havia nada a fazer. Aquilo marcou muito. Foi a ocorrência mais dolorosa da minha vida – mais emocionado – levei muito choque, cortei o pé, inalei fumaça, mas eu e meus colegas choramos demais!!!

 

Sabe-se que você tem conseguido reconhecimentos até fora do Estado. Como se deu isso?

Até a Constituição de 1988, a Guarda tinha um tipo de trabalho. A partir desta data começou-se a trabalhar dentro da legalidade. Como estamos no fundo do Estado de São Paulo, longe da Capital, precisava de alguém ir buscar informações para melhorias, para cursos, para aprimoramentos em matéria de Segurança Pública Municipal. Então em 2001, em 2002, comecei a ter conhecimento deste pessoal na capital e busquei informações. Através disso fui ganhando notoriedade, fiquei conhecido no meio das Guardas Municipais do Estado de São Paulo e, posteriormente, do Brasil. Fui convidado para participar de associações, de sindicatos e fui me destacando neste meio. A nossa mentalidade aqui é uma, na capital é outra. Assim, fui levando informações de como era uma Guarda numa cidade pequena como a nossa e fui buscando de lá para cá. Desenvolvemos trabalhos com políticos das três esferas, para a evolução das Guardas. Buscando sempre informações, aprendendo com uns, com outros, com a Polícia Militar, com a Civil e fomos montando um documento, através desses conhecimentos, para melhoria das GCMs.

 

E o que melhorou?

Em 2003, conseguimos criar uma Lei, que é a 1302, que daria poder de polícia para as Guardas Municipais. Começamos a construir esta lei que foi encaminhada para o Congresso Nacional. Mas, para ser votada, era preciso criar lobs, contatos com deputados de outros estados, para ela ser aprovada e só foi aprovada em 2014. Foi um trabalho feito na base. Nós visitávamos as cidades do Estado de São Paulo e de outros estados, de forma que a cada visita, a cada reunião, a cada encontro, era elaborado uma carta no final de cada evento registrando as opiniões de todos. Assim a Lei foi elaborada, mas não passou na íntegra, como queríamos. Queríamos que fosse aprovada com a aposentadoria do funcionário com 30 anos de serviço, que ela fosse armada, independente do número da população. Hoje, as Guardas com menos de 50 mil habitantes não podem trabalhar armada. Desta forma, a GCM que sempre trabalhou na legalidade, agora tem o respaldo da Lei. Mas, não podendo estar armada, a Guarda em cidades com menos de 50 mil habitantes, foi discriminada, como se o crime não existisse nestas localidades.

 

Na sua opinião, o que seria diferente se vocês pudessem portar armas?

Quando desarmou a Guarda de Guaíra, em 2005, me telefonaram, eu estava em Foz do Iguaçu. De posse desta informação, mesmo estando longe, já procurei ajuda. Então, nos lugares onde os guardas trabalhavam em quatro, passaram a trabalhar em oito. Aumentamos o material humano para suprir a falta de armamentos. Continuamos a fazer o auxílio à população, da mesma forma, as mesmas ocorrências.

 

Vamos falar das medalhas?

Estas homenagens vieram através de todo um trabalho desenvolvido nos bastidores dentro das Guardas Municipais, não só do Estado de São Paulo, mas do Brasil e com o envolvimento com os políticos de todas as esferas. Foi um reconhecimento… Um guarda que saiu daqui de Guaíra, fazendo um trabalho de “formiguinha”, como reuniões com políticos, indo a Brasília, a São Paulo, pegando um pouquinho de cada lado, para montar essas leis e todas essas coisas que vieram beneficiar as Guardas de todo o Brasil, fomos construindo aos poucos. E o pessoal foi reconhecendo. No mês de Outubro de 2017, fui convidado para receber uma homenagem, em Curitiba, da Associação das Forças Internacionais da ONU. Fiquei envaidecido. Voltei em dezembro e recebi a medalha de Honra Nacional do Guarda Municipal e a medalha Tiradentes que são os patronos da polícia. É o reconhecimento pelo trabalho que fiz.

 

Você se aposenta logo? Quer mesmo aposentar?

Sim, o mais tardar no final do ano. Hoje está muito difícil trabalhar com gente. As leis estão muito complicadas. Hoje, infelizmente, a lei favorece os bandidos. A marcação em cima do policial, pelos direitos humanos, é muito grande. Porque é muito fácil alguém ficar sentado atrás da mesa e criticar uma ação, uma decisão que foi tomada em 5 segundos. Hoje, está muito difícil. Mas me sinto realizado pelo trabalho que desenvolvi: prendi muita gente, recuperei muitos objetos roubados, apaguei incêndios, capturei animais, ajudei mulheres grávidas a chegar até o pronto socorro, ajudei velhinhas a atravessarem a rua (risos)… O guarda municipal é um homem-tudo! Dentro da guarda não tem setores diferenciados. Trabalhamos em todas as áreas. Trabalhamos também com todos os níveis de pessoas… Sem distinção. Continuo deixando o melhor de mim.

 

Agradecimentos

Tive muitas experiências boas e ruins, as boas guardei para mim, das ruins tirei o melhor. Tenho que agradecer a todos os colegas. A Guarda muito me ensinou. Me tornei um cidadão que não bebo, não fumo, não jogo carteado. Procuro não frequentar lugares que coloquem minha vida em risco nem a dos outros. Tenho que agradecer a todos os prefeitos pelos quais passei, aos vereadores, agradecer à imprensa falada e escrita, agradecer ao Capitão Cecílio que me incentivou a estudar – hoje sou formado em Administração de Empresas e Teologia graças a este incentivo, por fim, agradecer a GCM que me abriu muitas portas. Então, o que consegui foi a Guarda que me proporcionou, facilitou a escala de serviço para que eu corresse atrás e ter um nível melhor. Uma pessoa com um bom conhecimento transita em todos os níveis da sociedade. Tenho muito que agradecer às pessoas boas de Guaíra, cheguei aqui um moleque e saio com uma cabeça boa, um homem formado. Hoje dou palestras e contribuo com a formação de outros guardas. Devo muito à Guarda Municipal. Sou grato e ela eternamente.


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