A última chuva deste ano em Guaíra foi em 19 de maio, um dia após o aniversário de emancipação política e administrativa do município. De lá para cá, soma-se exatos 71 dias de seca. Ainda não é um cenário alarmante, mas a cidade já ligou o sinal amarelo, que representa um momento de alerta para o abastecimento de água.
Esse período de estiagem é comum em todos os anos. Inicia-se durante o outono e vai até o final do inverno e início de primavera. Quando olha para o calendário, o guairense já sabe que, de março ao mês de setembro, serão poucas nuvens no céu, sol, baixa umidade do ar e aquela sensação de clima seco, comum no território do serrado.
Para o diretor do Departamento de Esgoto e Água de Guaíra (DEAGUA), Lucas Fronner, o volume de água dos reservatórios são estimados de um ano para o outro, de acordo com o registro de chuva no período anterior. Quando um ano é bom de temporais, no outro não é registrado racionamento.
Em Guaíra, a captação de água para o abastecimento público é realizada por meio de um córrego, o Ribeirão do Jardim, que abastece a Estação de Tratamento de Água (ETA) e dois poços artesianos. A cidade ainda possui duas estações de reservatórios, um localizado na rua 22, centro da cidade, e outro no bairro Jardim Elisa, onde existe uma caixa d’água.
Segundo Fronner, a expectativa é que o córrego mantenha o seu nível durante o período de estiagem de 2018. “A tendência é que o Ribeirão do Jardim mantenha seu nível. Obviamente ele sofre uma redução devido ao tempo seco e evaporação natural, mas com volume de água satisfatório, é possível atravessar este período pontuado da estiagem com uma certa segurança hídrica”, destaca o diretor da autarquia, confiante no seu sistema de abastecimento.
A localização também representa um outro fator positivo que tira Guaíra da lista de municípios que podem sofrer com o racionamento. Cada cidade da região está localizada em bacias hidrográficas diferentes. No caso, o Ribeirão do Jardim está na bacia do Sapucaí-Mirim-Grande, que é diferente de Barretos, que está na bacia do Baixo-Pardo-Grande.
No ano passado, a cidade vizinha sofreu racionamento de água e, mesmo estando há poucos quilômetros de distância (35 km), os guairenses não foram atingidos. Por outro lado, outras que fazem parte da mesma bacia hidrográfica de Guaíra, como Ribeirão Preto e Franca, também entraram em período de racionamento. “Tudo depende da localização dentro da bacia hidrográfica, levando em consideração que as terras guairenses podem ser consideradas privilegiadas neste quesito”, explica Lucas.
SINAL AMARELO
Todos os anos, a estiagem no município chega a um período de aproximadamente 120 dias. Já na metade deste percurso, o DEAGUA já ligou o “sinal amarelo”, que representa estado de alerta para que algumas medidas sejam tomadas e a população convocada a colaborar, evitando principalmente o desperdício de água.
Em Guaíra, uma cena bastante comum é ver pessoas lavando a calçada com água potável. A prática, já abolida em outras localidades, inclusive com multa para quem a faz inadequadamente, ainda é percebida na cidade. O Diretor da autarquia disse que é necessário que a comunidade colabore. “É preciso que a população continue utilizando a água de maneira racional, inteligente e, se possível fazendo uso de equipamentos de economia, como instalação de gatilho na mangueira, evitando o desperdício quando se está fazendo o uso da vassoura para varrer a guia da via pública”, solicita Lucas.
A expectativa é que haja pouca chuva nesta semana e, para os próximos 50 dias, não ocorra um alto volume. Por isso, cada um deve fazer sua parte. “O cidadão necessita fazer o uso racional e economizar. É preciso estar atento. Hoje, estamos devolvendo os créditos daquela ação na Justiça. Talvez o consumidor pense que está economizando, mas não percebeu que existe um crédito sendo debitado. O consumidor precisa verificar os volumes gastos, para verificar se existe economia e até para detectar possíveis vazamentos. Como sempre digo, a economia de água se faz gota a gota”, encerra.
CUIDADOS COM A SAÚDE
Outro sinal que deve estar em alerta para o munícipe é referente ao aumento de contágio de doenças neste tempo seco. A baixa umidade, que chega a 22% em Guaíra, aumenta a incidência de doenças respiratórias, como rinite alérgica e asma, além de problemas na pele, nos olhos e sangramento nasal.
As doenças respiratórias são as mais preocupantes, principalmente entre crianças e idosos, como gripes e outras virais. Pela fragilidade do organismo, existe uma chance maior de complicação. Por isso, o cuidado precisa ser redobrado e, ao sinal de mal-estar, deve-se buscar acompanhamento médico.
Nesta época do ano, é necessário e importante levar consigo sempre uma garrafinha contendo água fresca, para manter a hidratação durante o dia todo. As vias aéreas e os olhos também podem incomodar pela falta de umidade. Eventualmente, é possível aliviar os sintomas usando soro fisiológico para gotejamento no nariz e nos olhos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera como situação de alerta quando a umidade relativa do ar cai para menos de 30%. Por isso, deve-se evitar atividades físicas externas no período de maior exposição ao sol. De acordo com o Ministério da Saúde, durante a seca, a população deve evitar exercícios físicos ao ar livre entre 10 horas da manhã e quatro da tarde.
AGRICULTURA
Para o Sindicato Rural de Guaíra, o período de estiagem não afeta a agricultura local. “No nosso inverno, temos que nos atentar aos danos ambientais, como fogo, mas na nossa agricultura irrigada podemos ter um controle mais eficiente de pragas e doenças, onde você irriga na hora que a planta necessita e na área de sequeiro, como plantamos o milho safrinha, muitas lavouras já estão no seu final de ciclo, então isso é benefício de uma certa forma, não se esquecendo do fogo na palhada de milho que é prejudicial”, aponta o engenheiro agrônomo da instituição, Renato Massaro.
De acordo com o especialista, a chuva seria bem-vinda para melhorar a umidade do ar, mas, de um modo geral, a seca não atrapalha nas plantações da região. “A cana está a todo vapor, a colheita não é interrompida e a planta está em fase de maturação até novembro. São vários ciclos, então, é bom na conversão de açúcar; quando não chove, a conversão no colmo da cana é beneficente pra quem vai fazer açúcar e o álcool é consequência.”
Entretanto, Massaro estima chuva para este início de agosto. “Guaíra, com toda sua infraestrutura, já está acostumada. É um ano diferente dos outros, porque choveu pouco lá atrás, não criou-se bolsão nas reservas de água, mas acredito que agora em agosto teremos as primeiras chuvas e não teremos um ano tão seco”, encerra.