Mensagem Eliza 90 Anos – Fazenda Santa Catarina 09/06/2018

Opinião
Guaíra, 8 de julho de 2018 - 07h30

Amada mamãe, avó e bisavó, Eliza! Você já notou a perfeição que existe na natureza? Uma prova incontestável da harmonia que rege a criação. Como num poema cósmico, Deus rima a vida humana com o ritmo dos mundos. Como num poema cósmico, Deus rimou a nossa vida com a sua vida e nos presenteou com sua fértil semente.

Ao nascermos, nesta fazenda, você era a primavera que eclodia em perfumes e flores. Tudo era festa. Sua pele viçosa, seus cabelos e olhos brilhavam em um sorriso sempre fácil. Você traduzia esperança e alegria. Se encantava com a graciosidade de suas crianças e quase nenhuma preocupação perturbava a sua alma. Sua juventude correspondia ao auge do verão. Aqui, na Catarina, experenciava a estação do calor e da beleza, abençoada pelas chuvas tantas vezes torrenciais. O sol aquecia a sua alma e renovava as suas promessas. Alma esta, aquecida pelo entusiasmo, impetuoso e vibrante. Seus impulsos fortes eram passageiros como tempestades de verão. Apontava ao mesmo tempo, uma mente trabalhada pela maturidade e pela conquista de uma visão mais completa sobre a existência.

Chegava-lhe o outono! Nesta estação você se sentia plena com os cinco filhos brincando no seu jardim e com papai solicitando a sua alegria até mesmo nos momentos mais turbulentos. A sua infantil ingenuidade transformava-se em sabedoria acumulada, em experiência, sem perder a disposição para viver cada momento:

Nas viagens longas para Guaíra, com o carro encravando, teimando em deixar na lama, e nosso sacolejo tímido, nos apertando atrás dos bancos, sufocando o desejo de gargalhar e fazer parceria com a meninice da infância; Na preparação, nos enormes tachos de cobre, de sua deliciosa goiabada, adocicada pelos nossos olhos curiosos e pelo nosso paladar incontido; Na precisão do tempero da massa do milho e em amarrar a  cinturinha das pamonhas que saiam fumegantes do fogão a lenha; Nos alegres momentos de preparação dos suínos que se calavam na madrugada para serem servidos, após seu preparo, na nossa farta mesa; No aroma de seu pão, tão quentinho, que deliciosamente derretia a manteiga provocando e satisfazendo a nossa gulodice; No talento de suas mãos, tão italianas herdadas, trabalhando habilidosamente no cilindro, para satisfazer a nossa paixão pelas suculentas “pastas” que preparava, colorindo de sabores e de encantos o burburinho na mesa posta;

Na satisfação com que recebia os amigos do papai para a alegre canastra; Na confiança e lealdade na presença incondicional de nossa Bá Jê e das sábias comadres da colônia que lhe estenderam as mãos e os corações, acolhendo-a como sinhazinha quando aqui chegou como uma ilustre Professora; Na espera dos passos lentos de seu João da Mata que impreterivelmente, à tardinha, chegava lhe chamando de “sadona” para que lhe permitisse acender os lampiões; Na presença frequente dos irmãos e sobrinhos que desafiavam a sua preocupação com suas peraltices, mas enchiam-lhe de contentamento com as principescas  brincadeiras no secular “tamarineiro”; Nos tão significativos  momento de fé e agradecimento, rezando o terço na varanda e batizando os netos na capela…

Infindáveis e condensadas memórias! Que recheiam, sedimentam e embelezam a sua existência! Mas a vida corre célere! E um dia… Que surpresa!

A força do verão foi-se diluindo, modificando gradativamente a sua imagem! E o inverno insistiu em chegar inquietando as estações!

Uma olhada no espelho lhe mostrava as suas rugas, os cabelos que começavam a embranquecer, o caminhar mais lento pedindo auxílio para manter sua energia e equilíbrio, os olhos até então ávidos pela leitura constante, pediam licença para descansar… Impedindo que suas mãos continuassem a registrar na poesia parceira, as memórias da vida.

Contudo, este mesmo espelho hoje lhe diz: continuas ainda mais bela porque acenderás as velinhas de seus dourados, esplendorosos, coroados e abençoados NOVENTA ANOS…

Assim, presenteada pelas mãos divinas, nem mesmo o inverno você temeu! Como também não temeu a sua velhice! Não se recolheu! Preferiu compartilhar experiências, sem esquecer a beleza misteriosa que lhe envolve a companhia calorosa de seus seres amados, a sua família…

Leite quente com canela, sorrisos gentis, generosidade com filhos, netos e bisnetos, e assim continua sua caminhada, acolhendo com suavidade as limitações que a vida lhe impõe. Tem feito a opção por aquecer os seus dias, não deixando o frio enrijecer a sua alma. Experiência hoje a beleza de cada estação.

Da primavera herdou a espontaneidade e a alegria… Do verão, a leveza e a força… Do outono, a reflexão… Do inverno a sabedoria em renovar seus desejos… Aguarda, o tempo por a mesa e determinar o número de cadeiras e lugares para a família estar servida! Assim como a Águia, com habilidade, renova-se… Ainda com novos sonhos… Voa outra vez… Tão alto quanto antes, com visão renovada, em busca de constantes objetivos, tendo a certeza de que após o inverno outros belos ciclos se iniciarão! E tudo recomeça para você Mamãe… Novas vidas, novas estações… Porque és plena, és bela! Porque tanto ama, e porque ama tanto, sua vida se transforma todos os dias, em uma eterna Primavera!

Por todos nós, Angela Maria Vaccaro Silva Alves


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