O poder da denúncia anônima

Opinião
Guaíra, 11 de agosto de 2017 - 09h46

Em meio à escalada de violência que já deixou mais de 100 mortos na Venezuela desde abril, PT, PC do B e PDT assinaram um manifesto apoiando a ditadura do presidente Nicolás Maduro.

À frente desse movimento de esquerda pró tirania chavista cabe destacar o posicionamento da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao declarar “apoio incondicional” à farsa da eleição convocada por Maduro para a escolha de representantes que vão reescrever a Constituição daquele país. A petista defendeu esse processo de votação, realizado em 30 de julho, em artigo na Folha de S.Paulo onde tenta passar a ideia descabida de que o ato do ditador venezuelano é um exemplo a ser seguido pelo Brasil.

As regras bizarras e a falta de transparência do processo eleitoral de Maduro servirão para colocar representantes chavistas para mexer na Constituição tendo como objetivo aumentar o poder de um governo autoritário. Não se trata de uma eleição para avaliar o presidente e sim um faz-de-conta para manter o impopular Maduro à frente de uma economia em frangalhos. Detalhe: entre os eleitos no dia 30 estão a esposa e o filho de Maduro e um irmão de Hugo Chávez. O número de votos deles não se sabe.

Cabe salientar que o PT sempre teve afinidade com governos ditatoriais e ajudou a financiar alguns deles. Quando era presidente, Lula afirmou: “não podemos ter preconceitos contra países não democráticos”. Seu governo colocou US$ 12 bilhões do BNDES em economias comandadas por tiranos, como Cuba, Angola, Zimbábue, entre outros. Mesmo com tantas deficiências estruturais no Brasil o petismo bancou obras em nações que violam direitos humanos e reprimem violentamente atos contra o governo. Junto com esse dinheiro foram algumas empreiteiras brasileiras tocar projetos que se revelaram como extensões dos esquemas de corrupção arquitetados pelo PT no Brasil.

A tirania venezuelana foi um dos principais destinos de recursos no passado recente. Em 2009 as empreiteiras brasileiras chegaram a ter contratos que somavam US$ 20 bilhões naquele país, sendo que o Tribunal de Contas da União detectou irregularidades em muitos neles.

A Constituição, redigida em 1999 já sob o comando de Hugo Chávez, não é a causa do colapso venezuelano. A origem do caos está no autoritarismo e na má gestão da economia do país.

Os dezoito anos de chavismo arruinaram a Venezuela. O país conviveu com um período relativamente estável quando o petróleo, responsável por 95% das exportações do país, tinha seu preço nas alturas. Hoje a situação se inverteu e os efeitos do populismo na condução da política econômica se revelam de modo dramático.

Em 2016 o PIB venezuelano desabou 18% e neste ano deve cair mais 12%. A inflação pode chegar a 720% em 2017. O desemprego atinge 25% dos trabalhadores. Pesquisa mostra que 3 em cada 4 venezuelanos perderam peso, em média 9 quilos em um ano, porque não têm dinheiro para comprar comida. Aliás, mesmo que tivessem recursos eles não conseguiriam obtê-la, já que falta quase tudo nos supermercados. Isso sem falar que 85% dos medicamentos não são encontrados nas farmácias do país.

O manifesto da esquerda brasileira e a declaração da presidente do PT têm um mérito: escancara o desprezo que eles têm pela democracia e o apreço pelo populismo, mesmo que isso arruíne a economia. Tudo em nome de uma ideologia fantasiosa que beneficia uma elite política corrupta e amplia a miséria entre os trabalhadores.


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Marcos Cintra

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque

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