Os 110 anos da imigração japonesa para o Brasil

Opinião
Guaíra, 24 de junho de 2018 - 16h13

Por Marcelo Borba de Freitas

Nas últimas décadas do século XIX, o Japão, por meio da Revolução Meiji, saltou de um Estado feudal para um país em desenvolvimento. A economia, quase que inteiramente agrícola, foi paulatinamente se industrializando desde então. Esse fato acarretou ao abandono do campo por grande número de camponeses, que migraram para os centros urbanos em busca de novas oportunidades.

Contudo, mais de 5 milhões de famílias permaneceram ainda trabalhando com a agricultura, sendo que apenas 1/3 era proprietária rural. No ano de 1873, ocorreu uma reforma tributária que modificou o pagamento de tributos em espécie para pagamento em dinheiro. O reflexo dessa medida foi a perda de milhares de propriedades pelo confisco. O governo japonês procurou equacionar o problema, incentivando a migração para Kokkaido, região localizada ao norte do país e até então pouco povoada. Entretanto, o agravamento da situação no campo, fez com que fosse liberada a emigração para outros países, restrição imposta no período Tokugawa.

Aos poucos, os japoneses foram se espalhando por diversas regiões: no Havaí e na Austrália passaram a trabalhar na lavoura canavieira, nas Filipinas em construções de rodovias, no Peru na extração do látex, no Canadá em atividades pesqueiras. Contudo, após a I Guerra Mundial, surgiu nos países imigrantistas o temor da entrada de imigrantes não europeus, considerados inferiores. Na busca desenfreada de um país para a colocação da mão-de-obra excedente japonesa, as agências nipônicas acabaram encontrando o Brasil, país antípoda do Japão e considerado de segunda categoria para emigração. Assim sendo, em 1908, ancorou no Porto de Santos o navio Kasato-maru trazendo a bordo o primeiro grupo de imigrantes japoneses, por meio de acordo firmado entre as duas nações.

Ao emigrarem, os nipônicos não tinham a menor noção das dificuldades que aqui encontrariam, uma vez que os propagandistas de ambos os lados, apresentavam o nosso país aos possíveis candidatos a emigração em termos nada condizentes com a realidade duríssima do Brasil naqueles tempos, sobretudo no campo. O japonês emigrava com a esperança de trabalhar no máximo por 10 anos e após esse período retornar ao Japão bem sucedido. Porém, para a grande maioria dos imigrantes, a viagem foi sem volta. A remuneração paga pelos cafeicultores era bastante baixa e intuíram que, no mínimo, a segunda ou a terceira geração usufruiria do resultado do sacrifício vivido pelos pioneiros.

Os sofrimentos e revezes de fato não foram poucos, muitas vezes deparavam ao chegar, com campos nativos forrados de árvores imensas a serem derrubadas para o posterior plantio de lavoura. Em muitas fazendas não havia nem casas para serem habitadas, eles próprios deveriam construí-las, de forma improvisada, com troncos trançados e emplastados de barro, com cobertura de folhas de coqueiro. Movidos pela ânsia de ganhar dinheiro e retornar à terra natal, começavam o trabalho às 4 horas da manhã e iam até o anoitecer.

Aos poucos, no entanto, foram se convencendo, que o Brasil não era apenas o país de permanência temporária tal qual se imaginara, o que significou um duro golpe para as famílias. Foi o desmoronar de um sonho e o enfrentamento de uma realidade muito diferente da esperada. Todavia, o espírito do Gambarê – princípio baseado no confucionismo e que significa esforço e resignação que os japoneses deveriam ter mesmo diante das dificuldades – os ajudou enormemente.

Em nossa região, após o período contratual nas fazendas de café, passaram a se fixar em núcleos coloniais na bacia do rio Grande, dedicando-se inicialmente ao cultivo do arroz e depois do algodão. Como eram arrendatários e praticavam agricultura de coivara, assim que a terra dava sinais de desgaste, mudavam em busca de novas áreas para o estabelecimento de lavouras. Repetindo esse processo, acabaram chegando ao nosso município. Já em 1914, haviam aqui algumas poucas famílias japonesas trabalhando como colonos nas poucas fazendas de café existentes em Guaíra. A vinda mais expressiva de japoneses para o município ocorreu a partir da década de 1940, quando se verificou uma acentuada expansão da cotonicultura no estado de São Paulo e os japoneses, espalhados pela região, encontraram aqui a possibilidade de arrendar ou adquirir terras e se dedicarem inicialmente à agricultura do algodão e de cereais.

Hoje, quando se comemora os 110 anos da imigração japonesa para o Brasil, seus descendentes têm expressiva participação em setores importantes da vida do município, com  peso ainda importante no setor agrícola.


TAGS:

Marcelo Borba de Freitas

Marcelo Borba de Freitas é historiador e gestor escolar   

Ver mais publicações >

OUTRAS PUBLICAÇÕES
Ver mais >

RECEBA A NOSSA VERSÃO DIGITAL!

As notícias e informações de Guaíra em seu e-mail
Ao se cadastrar você receberá a versão digital automaticamente