Um Brasil politicamente retrógado

Opinião
Guaíra, 5 de agosto de 2018 - 07h30

Por Paulo Cesar Romanelli

Vivemos um cenário político não desejado, onde as políticas públicas não estão de acordo com as expectativas da população, pois se fosse diferente este seria denominado “Estado Ideal”, ademais, nossa estrutura política tem fortes laços que, diga-se de passagem, não querem desatar de um “Estado Herdado” que possui um caráter negativo, pois se caracteriza por um momento indesejado, como já ocorreu no Brasil, marcado por um Estado patrimonialista, autoritário e clientelista. Na verdade, o Estado Herdado foi o legado deixado, especificamente no Brasil, pelo período de ditadura militar, por volta dos anos 1964 à 1985 e, como já ventilado acima,  associava patrimonialismo e autoritarismo com clientelismo, hipertrofia com opacidade, insulamento com intervencionismo, deficitarismo com megalomania, não atendia ao projeto das coalizações de direita e muito menos daquelas de esquerda que, a partir da redemocratização, iniciada em meados dos anos  de 1989, poderiam suceder os governos de então.

Além do mais, vale lembrar ao leitor que o “Estado Herdado” não contemplou os recursos como escassos, os econômicos podiam ser financiados, interna ou externamente, com aumento da dívida imposta à população, os políticos eram virtualmente inesgotáveis, uma vez que, seu aparato repressivo a serviço do regime militar sufocava qualquer oposição.

Na verdade, o eleitorado brasileiro tem que se conscientizar que o atual gestor público deve desenvolver políticas públicas que atendam às necessidades da sociedade de forma abrangente. Logo, a democracia é uma condição necessária para construir um Estado que garanta o bem-estar social da população, além de garantir a participação do cidadão em todo o processo democrático e a transparência das ações políticas. Sendo assim, o próximo presidente da república deverá ser capaz de fazer emergir e atender as demandas da maioria da população marginalizada e projetar o país numa rota que leve a estágios civilizatório superiores. Como é sabido por todos, o Brasil ainda encontra-se em processo de transição, uma vez que, a redemocratização do país que teve início em 1988 com a promulgação da Constituição Federal, foi o marco importante para o início do processo de transição de um Estado Herdado para um Estado Necessário.

Pois bem, após assistir há varias entrevistas de possíveis candidatos presidenciáveis, confesso que estou chocado, nenhuns dos candidatos possui discernimento suficiente para vislumbrar que os desafios do gestor público são crescentes e carecem de novas ferramentas, no caso em tela, um eficaz Planejamento Estratégico Governamental, para que possam propiciar soluções aos mais diversos problemas, cujas variáveis prescindem de estratégias que possam responder positivamente ao controle e equilíbrio das demandas sociais e políticas da gestão pública em geral.

No entanto, os candidatos ainda insistem no Planejamento Tradicional, com o uso repetitivo de controle (gestão centralizada) que, como já vimos, apresenta conflito, pois existem grupos influentes no cenário político brasileiro que determinam objetivos alheios à realidade, com um planejamento inadequado por ausência de diretrizes, de interação com outros sistemas. E, finalmente, candidatos com um discurso afinado com o retrógado Estado Herdado, ao qual o planejamento possui um foco predominantemente econômico, pois sabemos que o mesmo revela-se pouco eficaz.

Infelizmente, nenhum candidato tem demonstrado optar em sua plataforma de governo por um planejamento estratégico situacional, onde o gestor teria que optar por controle interativo do “cenário” (ampliar interatividade entre os atores e gestores), utilizando uma análise situacional do problema e reconstrução estratégica das ações, revendo as estratégias e os métodos de controle no contexto (cenário) em prol da governabilidade, não se limitando a um planejamento com foco apenas econômico, com fortes predominâncias de incertezas e confusões. E, como não fosse suficiente a carência de bons candidatos, no atual cenário político brasileiro, todos nós sabemos que os oponentes são os mesmos atores do governo, que lutam por posição e poder, não dando a menor importância às demandas sociais da população carente.

Em resumo, o próximo governante do Brasil, obrigatoriamente, terá que fazer gestão pública, utilizando a ferramenta do Planejamento Estratégico Governamental para que o mesmo possa desenvolver um plano de governo que mais harmonize com a realidade social, mais apto para atender demandas, alcançar níveis mais desenvolvidos de desempenho social, como mudar culturas mais incrustadas e hábitos anteriores não efetivos a contemporaneidade das necessidades da sociedade, buscando, assim, um diagnóstico do ambiente interno institucional e externo mais preciso do retrato que está inserido, de acordo com a cultura governamental e interesses e ações dos atores envolvidos.


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Paulo Cesar Romanelli

Paulo Cesar Romanelli, funcionário público municipal, advogado e aluno de pós-graduação em gestão pública pela USP (Universidade de São Paulo), polo UFSCar.

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