Naquela noite, Antônio Ortigoso, seu filho Niltinho e seus amigos Carlão e Paulo, da Mina Mercantil, trocaram confidências sobre a dureza da vida na roça e a imprevisibilidade do tempo. Foi então que, em meio à despretensão típica dos homens de fé, surgiu um trato inusitado: se chovesse o bastante para salvar a safra até a semana seguinte, eles fariam uma caminhada até a Capela do Pindoba.
Choveu.
Choveu como se o céu tivesse escutado a conversa dos amigos e respondido com generosidade. A promessa, feita em um momento descontraído, tornou-se compromisso. O que começou como uma caminhada e depois um almoço entre famílias de produtores, logo virou algo maior. Cresceu. Ganhou corpo, alma e um propósito coletivo.
No último sábado, 24 de maio, mais de 90 romeiros seguiram os passos que há 16 anos começaram com uma promessa simples. Ao final da trilha, mais de 500 pessoas aguardavam na Fazenda dos Ortigoso, para a missa celebrada pelo padre Edisson Patáro. Com a presença de autoridades como o prefeito Junão e vice Renan, aconteceu uma comemoração emocionante, cheia de gratidão e pedidos, especialmente por mais chuva e pela proteção dos agricultores e suas famílias.
Nilton Ortigoso, hoje um dos organizadores da romaria, lembra com carinho do início de tudo. A caminhada até Pindoba já virou tradição, mas jamais perdeu o espírito com que nasceu: a fé como guia, o agradecimento como combustível, e a esperança como destino.
E se a caminhada por si só já é marcante, o local onde ela termina carrega uma história ainda mais profunda.
A Capela do Pindoba não é apenas uma construção de tijolos e orações. Ela repousa sobre uma narrativa de dor e resistência. Conta-se que Pindoba era um escravo acusado injustamente de roubo, condenado à tortura mais cruel: enterrado vivo, com apenas a cabeça exposta, privado de água e comida, condenado à agonia. Tudo isso para encobrir o erro do verdadeiro culpado, o filho do próprio fazendeiro.
A história se espalhou, atravessou gerações, e hoje, aquele solo onde Pindoba encontrou o martírio se tornou sagrado. Lá se reúnem pessoas em busca de força, respostas, curas. Ali se agradece pelas conquistas e se pede luz para os dias difíceis.
A romaria que parte da cidade e termina aos pés da capela não é apenas uma tradição religiosa. É um gesto coletivo de fé, um memorial à injustiça que jamais deve ser esquecida, e um reencontro com os valores que nos tornam mais humanos: empatia, solidariedade e coragem.
Ano após ano, a caminhada se repete. Os passos, ainda que cansados, avançam firmes por uma estrada de chão batido e silêncio reflexivo. No fim, há missa, partilha e reencontro. Mas acima de tudo, há um sentimento comum entre todos que ali chegam: a certeza de que caminhar com fé e gratidão é um jeito bonito de honrar o passado, viver o presente e confiar no amanhã.
E assim, a Romaria à Capela do Pindoba segue viva. Porque promessas feitas com o coração não se perdem no tempo. Elas viram legado.
Agradecimento
A 16ª Caminhada do Pindoba foi emocionante. A missa, celebrada pelo padre Edson e pelo José Roberto Parizi, reuniu tanta gente que nem houve hóstias suficientes. Isso mostra a força e o crescimento desse evento tão especial.
Depois, fomos recebidos com um churrasco farto, bebida gelada, boa música e aquele ambiente acolhedor que nos faz lembrar as festas antigas nas fazendas. Quem foi, sentiu o coração aquecido.
Agradeço de coração ao Nilton e ao Toninho Ortigoso, e a toda sua família, pela organização impecável e pelo carinho com todos nós. A Mina Mercantil tem orgulho de fazer parte dessa história desde o começo, que nasceu, aliás, de uma promessa entre amigos e virou tradição.
Mesmo sem poder caminhar este ano por questões de saúde, estive presente em espírito e, se Deus quiser, no ano que vem estarei firme na caminhada.
Obrigado a todos que participaram, na caminhada, na missa ou na confraternização. Foi um dia de fé, amizade e esperança. Que essa tradição siga viva e tocando mais corações a cada ano.
Até a próxima, se Deus quiser!
Carlos Azevedo
Mina Mercantil – 50 anos com Guaíra, com fé e amizade