Lindos!
Os vencedores do Miss e Mister 3ª Idade foram definidos no dia 08 de setembro, no Centro de Lazer. Com muita vitalidade, os candidatos e candidatas desfilaram primeiramente com traje Hawaiano, tema do baile que ocorreu após o concurso, com a banda Luiz Waldo Show. O evento foi uma realização da Prefeitura, por meio do Fundo Social de Solidariedade, e teve o objetivo de valorizar os idosos do município e realizar uma socialização das pessoas da melhor idade. Os candidatos tiveram os ensaios realizados por Sidnei Santos. A novidade deste ano foi a integração com os idosos atendidos pelo Asilo – Centro de Ação Social Nossa D’Aparecida que concorreram ao título. Os ganhadores representarão o município durante eventos da 3ª idade. Confira os vencedores:
À sombra das mangueiras
Por Eliza Vaccaro
Irene era uma menina bonita, olhos verdes, cabelos longos e lisos. Estudávamos no mesmo colégio e ficamos amigas no internato. Irene era muito alegre, amiga de todas, gostava de jogar basquete, cantava e declamava muito bem, e ainda era estudiosa. Sempre nos demos bem e nos tornamos amigas de verdade.
Fui passar umas férias em sua casa numa pequena cidade do interior. Eu me lembro que fomos a uma festa, acho que de casamento, num churrasco, num dia lindo de sol, bem La no alto da cidade, à sombra de majestosas mangueiras.
Eu estava com sede e fomos procurar uma água ou guaraná… Pedi a um jovem que também estava no meio de muita gente fazendo o mesmo que nós. “Oi moço! Arrume um guaraná, por favor”. Ele sorriu e dirigindo-se a Irene e perguntou: “você também aceita?”
“Se você conseguir”, disse ela. Era um jovem bonito, alto, moreno, olhos esverdeados de cabelos lisos e bem penteados. Ao entregar a garrafinha de guaraná a Irene, seus dedos se tocaram e seu olhar fixou os de Irene firme. Percebi que ela ficou perturbada. Acabava de chegar do colégio, nunca tinha visto alguém assim, meio ousado. Liamos sempre os romances de M.Delly e Irene muito romântica já achava que tinha encontrado o seu príncipe…
Ficou encabulada, “quem era aquele rapaz?” Nunca o vira antes. Não se viram mais, tanta gente naquele vai e vem. À noite, no passeio na velha praça da cidade pequena, com coreto e banda musical, estávamos lá. Irene sempre dizia que gostava de banda e me perguntou: “Você acha que gostar de banda é ser caipira? Pois eu gosto tanto!”
“Mas por quê? É tão bonita”, eu respondi. “É que eu ouvi aquela menina no colégio dizer que, quem gosta de banda é caipira.”
“Deixe pra lá Irene, Você é tão segura e está preocupada com isso? Olha lá aquele rapaz por quem você se encantou!” Irene o encarou tanto e viu que realmente não se conheciam. Percebeu que ele devia ser um pouco mais velho que ela e isso mais a encantou. Ouvimos alguém chamar pelo seu nome. Era amigo e primo do rapaz da festa que Irene já conhecia do clube.
Apresentaram-se, conversamos por pouco tempo, pois já estava na hora do cinema. Saímos apressadas, era férias e todos queriam “pegar” lugar no cinema. Achei tudo muito engraçado… No domingo seguinte daquele encontro, voltamos para casa e Irene inconformada de não ter visto Caio (naquele tempo os pais não deixavam as filhas saírem todos os dias). Assim foi durante uma semana. Numa tarde, saindo de casa, vimos Caio e seu primo, que perguntaram se íamos sair à noite. Mal nos falamos, fomos para a mesma praça, também, só tinha uma praça de tão pequena a cidade.
Nos encontramos, ele e Irene naquele papo de adolescentes… Tímidos e engasgados… Poucas palavras, assuntos diversos, estudo, livros, de qual família pertencia… “Incrível!”, disse Irene, “moramos na mesma cidade e não nos conhecíamos.”
Caio era tímido, não dançava e pouco frequentava o clube. Irene era alegre, participava dos acontecimentos sociais. O namoro continuou e se envolveram num amor sincero e comportado dentro dos costumes da época e da energia dos pais, por muitos e muitos anos… Estavam realmente apaixonados. Recebi uma carta da Irene dizendo que Caio decidiu fazer medicina e lá se foi para bem longe, no Rio de Janeiro. Tínhamos terminado o ginásio, nosso tempo de internato e cada uma tomou o seu rumo. Irene fez faculdade numa cidade próxima à sua e eu fui para São Paulo estudar na casa dos tios. Depois de formada Irene continuou os estudos, enquanto esperava por Caio.
Mas, com a distância, a grande vilã dos apaixonados, foi o namoro se tornando cada vez mais distante. Encontravam-se nas férias, e nas cartas perfumadas. E o tempo foi passando, e Caio cada vez mais distante e Irene cada vez mais triste. Fui passar mais uns dias de férias com Irene e ela me confidenciou: “Luiza eu já pressinto que Caio não me ama mais.”
Ela não suportava a indecisão de Caio e decidiu romper o namoro. Quase morreu… Foi se afastando de tudo e de todos. Sempre muito assediada pelos jovens de sua idade, nunca mais quis arrumar outro namoro, ainda mais que soube do casamento de Caio com uma carioca. Foi o fim de tudo, definhando, ela, que sempre foi decidida e forte, não conseguiu reagir e atender os meus apelos e da família. Eu estava sempre com ela, pois casei-me com aquele primo de Caio e morávamos na mesma cidade. Fazíamos de tudo para ajudá-la, tão boa! Mas nada conseguimos. Irene ficou gravemente enferma.
Numa manhã chuvosa e fria, a mãe de Irene veio à nossa casa muito triste. Irene era sua única filha e disse:” se você quiser ver Irene mais uma vez, venha comigo, está muito mal e não temos mais nada a fazer.” Os pais de Irene procuraram todos os recursos possíveis, sua doença era incurável. Fui ver Irene, além de amigas éramos comadres, tão sincera nossa amizade muito triste e quase sem forças me sorriu dizendo: “Luiza minha amiga, vou embora para sempre…”
O que eu mais admirava em Irene era sua determinação em nunca mais falar no Caio e não permitia este assunto. Aí está, a história verdadeira de Irene a alegre menina… Triste…
Sei que alguns jovens de hoje, ao lerem essa história, vão reagir como meu filho, “só vindo de você mãe para acreditar nesta história maluca de amor eterno!”
Certo dia, muito tempo depois, bateu na porta de nossa casa. Era Caio, bem grisalho e muito envelhecido… “Vim fazer-lhes uma visita, rever a nossa terrinha, vocês são os únicos parentes que ainda moram aqui. Acabo de chegar de uma outra visita que fiz à Irene. Fui levar-lhe uma camélia, era a flor que ela mais gostava. Confesso, chorei diante dela, daquela foto tão linda, parecia vê-la de verdade. Reconheço que Irene foi o meu primeiro e único amor. Tarde demais…”, disse ele.
Às vezes fico recordando o tempo de internato e vejo Irene alegre, feliz, declamando a poesia que ela mais gostava que dizia no final: “Eu morro… Amava-o tanto… Amei-o sempre… Amei-o até morrer de amor… Muita saudade, Luiza.”
Do meu arquivo da saudade,