Antes que seja tarde: como sentir a maldade chegando e se proteger dela

Cidade
Guaíra, 4 de junho de 2025 - 14h09

Não existe radar mais poderoso do que o instinto. Aquela sensação que começa lá, no fundo, quase imperceptível, como um leve arrepio que passa quando alguém entra na sala, diz uma frase fora de hora, ri de um jeito estranho demais ou aperta a mão como quem mede, e não cumprimenta. A gente não quer acreditar. Prefere chamar de exagero, sensibilidade demais, coisa da cabeça. Mas é ali, naquele primeiro desconforto, que mora o aviso mais importante: cuidado.

A pergunta é antiga e já alimentou debates, romances e até tribunais. Afinal, a maldade nasce ou se aprende? A ciência já jogou fora as respostas fáceis. Não se trata de destino ou de um gene do mal que define tudo. O que existe é um caldeirão de fatores: infância difícil, carência, negligência, traumas e sim, um pouco de genética — mas nada que sirva como sentença. Ninguém está condenado desde o berço. O que define mesmo é a maneira como cada um responde à vida.

O problema é que algumas pessoas respondem com veneno. Nem sempre visível, nem sempre direto. Às vezes, ele vem em doses homeopáticas, diluído em elogios falsos, em conselhos disfarçados de preocupação, em piadas que escorregam do deboche para o desprezo. São aquelas pessoas que nos fazem duvidar de nós mesmos, que nos fazem sentir pequenos, errados, insuficientes — mas tudo com um sorriso no rosto.

É fácil cair. É fácil confiar. É fácil ignorar o incômodo para manter a harmonia, o trabalho, o relacionamento, a amizade. E, quando se percebe, já se está envolvido demais. Já se cedeu demais. Já se perdeu um pedaço de si.

Ninguém carrega uma placa no peito anunciando más intenções. A maldade, no mundo real, não tem fundo musical nem trilha de suspense. Ela pode usar perfume, saber conversar, cozinhar bem, ser carismática e, ainda assim, agir com frieza calculada. Quem faz mal não precisa gritar — às vezes, sussurra.

Proteger-se não é erguer muros para o mundo. É reconhecer seus próprios limites. É saber quando um “não” é mais saudável que um “sim” constrangido. É aprender a confiar naquela voz interna que, tantas vezes, a gente cala. Blindar-se é um ato de amor-próprio — não contra o outro, mas a favor de si.

Talvez nunca haja uma resposta definitiva para a origem da maldade. Mas talvez ela nem seja necessária. O que importa, mesmo, é saber reconhecê-la. Não com paranoia, mas com presença. Com atenção. Porque, às vezes, a salvação está em sair da cena a tempo. Antes que a ferida fique funda. Antes que o cansaço se torne rotina. Antes que o próprio brilho se apague.

Antes que seja tarde.

 


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