Aos Juízes, promotores, advogados e toda comunidade guairense

Cidade
Guaíra, 10 de dezembro de 2019 - 09h55


Na última semana, recebemos um ofício de um inquérito Civil, do promotor Tulio Vinicius Rosa, endereçado ao “Ilustríssimo representante do Jornal ‘O Guaíra’” que, no momento, sou eu. Segundo o promotor, a solicitação é para garantir mais publicidade ao inquérito e com isso ter a participação de pessoas físicas e jurídicas, para que tenham ciência dos fatos.

Fiquei surpresa e um pouco triste, pois foi a primeira vez que recebemos este tipo de solicitação, visto que nunca recebemos diretamente quaisquer decisões judiciais, solicitações, tampouco, raramente, há disponibilidade de entrevistas, mesmo em casos que seriam importantes para população acompanhar. Acredito que, até então, havia falta de tempo ou interesse nesse tipo de contato.

Neste caso específico, os interessados são: o prefeito municipal de Guaíra, José Eduardo Coscrato Lelis, e Samuel Kruk, da Costa e Kruk Comunicação Ltda – ME. O motivo do inquérito: Renovação de contrato de publicidade do Município de Guaíra com a agência de publicidade Costa e Kruk Comunicação Ltda –ME.

Para quem não sabe, esta folha, juntamente com a minha filha Inara e os citados acima, já estão respondendo um processo por “improbidade administrativa”, onde são acusados de conluio e tantos outros absurdos para roubar dinheiro da prefeitura. É uma acusação que não tem provas, apenas suposições, que mal consigo escrever sobre ela sem sentir um frio na barriga de decepção, tristeza e desânimo.

Acredito que é realmente muito importante o Ministério Público se preocupar com o dinheiro gasto pela prefeitura. Uma pena que nas gestões passadas, onde foram gastos milhões com publicidade, não houve esse interesse, mesmo com inúmeras denúncias feitas por esta folha. A cada matéria, detalhada, estudada, bem fundamentada e até mesmo anunciada na Câmara, ficava a frustração pelo silêncio da justiça.

A Dueto, agência de publicidade de Ribeirão Preto que atendeu a gestão anterior, mesmo recebendo um volume muito maior, quase não gastou com serviços na cidade de Guaíra. As peças produzidas custavam aos cofres públicos valores exorbitantes, não ilegais, mas que nunca foram questionados. Mas tudo bem, ficou por isso mesmo.

Apenas para constar aqui, a atual administração pretende gastar, em 4 anos de governo, R$ 1.458.410,53. Na antiga gestão, do então prefeito Sérgio de Mello, os gastos em publicidade foram de R$ 2.291.714.44. A economia será em torno de R$ 833.303,91. Reforçando que nesta gestão, praticamente 100% dos serviços foram contratados no município, gerando renda para os profissionais e comércios locais.

O papel do jornal é totalmente baseado em fatos, nós não os fabricamos, nós só noticiamos. Diferente de alguns acusados que, para conseguirem algum mérito em suas pífias defesas, tentam desmerecer órgãos de comunicação, juízes, promotores ou até políticos honestos, usando com maestria o jogo das falácias, tentando sem sucesso iludir e confundir aqueles que o investigam e também a opinião pública.

Como órgão de comunicação estabelecido há 90 anos na cidade, passamos por TODOS os prefeitos, demos a notícia até da emancipação do município, jamais paramos de circular, mesmo passando por diversas crises.  Muitas vezes choramos, muitas vezes pensamos que não iríamos dar conta, com toda a pressão de políticos, mas nunca, jamais, fabricamos mentiras, jamais inventamos notícias. Tanto que algumas matérias foram usadas para fortalecer denúncias graves feitas por vereadores. Mas as notícias sobre publicidade, essas sempre foram ignoradas.

A história sempre se repete. Entra prefeito, sai prefeito e muita gente fala que “ganhamos” dinheiro da prefeitura. Na verdade, a palavra não é essa, pois se esquecem de falar que trabalhamos legalmente, visto que é um dever constitucional da prefeitura dar publicidade ao que está fazendo no município. Da mesma maneira que milhares de empresas vendem algo para prefeitura, nós vendemos espaços, diga-se de passagem, em valor muito inferior aos que os municípios pagam aos diários oficiais do estado e da união que não estão próximos dos munícipes. E menor em valor que outras cidades em centímetro/coluna.

Acompanho com apreensão centenas de jornais fechando as portas, que como o meu passam por muitas dificuldades. Com a era digital, não sabemos até quando vamos aguentar, mas se depender de mim e da equipe que me apoia, vamos até o fim. Pagando aluguel, com dificuldades de pagar salários, sendo exposta a calunias, muitas vezes ridicularizada nas redes sociais, mantenho firme meu propósito, pois são várias famílias que dependem desta folha.

Apesar dos pesares, apesar de toda perseguição que sofremos e que muitas vezes ficaram impunes, apesar de termos pedido socorro várias vezes e termos recebido o silêncio, sempre acreditei que um dia a justiça falaria mais alto. As minhas esperanças se renovaram quando Sérgio Moro começou a aparecer! Hoje, tento manter essa fé, mas ultimamente tem ficado difícil.

Podem procurar, podem vasculhar nossa história, nossas contas, pois jamais aceitamos jeitinho, notas em valores maiores, conluios ou conchavos. Se, em alguns momentos ficamos do lado de alguns candidatos foi por fé de que seriam diferentes dos outros que nos perseguiram e pouco fizeram pela cidade. Foi porque demos espaço a todos e mesmo assim sofremos represálias. E nesta longa caminhada, conhecemos sim bons políticos que fizeram da política a mais nobre das profissões, mas também conhecemos aqueles que perseguiram os jornais (porque queriam mandar na nossa linha editorial). Alguns disseram em palanques que iriam fechar o jornal. Vimos muitas coisas erradas, presenciamos políticos virarem, literalmente, a mesa em cima da gente, acompanhamos uma coisa inédita em Guaíra e quiçá no Brasil, que foi um jornal ser contratado por emergência (emergência só é usada em caso de catástrofes, vendavais, estrago na cidade quando precisa de dinheiro emergencial e etc.) para dar publicidade a um prefeito. E aqui estamos, nos sentindo pressionados agora pelo lado que sempre defendemos: a justiça.

Presenciei minha filha Inara negar todas as publicidades da prefeitura por não aceitar a maneira como o ex-prefeito fazia a gestão naquela época, mesmo precisando vender publicidade e sabendo que iria fazer muita falta. Sim, mais uma vez vamos repetir: foi uma opção do jornal O Guaíra não receber da antiga gestão. Isso custou muito além do dinheiro que negamos. Custou perseguição, dor de cabeça, medo, preocupação, exposição em capas de jornais mentirosos, custou um pseudojornalista falando mal e nos ofendendo praticamente todos os dias, durante 4 anos. Tivemos que recorrer à justiça, contestar a negação de que era ofensa e continuar de pé, de cabeça erguida, mesmo com tantas dificuldades. Fico me perguntando onde estavam os defensores do município quando viam esses jornais ofendendo a gente, xingando e expondo minha família, só porque estávamos brigando pela verdade.

Hoje, poderíamos estar bem financeiramente, poderíamos não ter perdido a casa que recebemos do meu pai e que tinha um valor sentimental que jamais vamos recuperar. Chorei muito escondida e pedi perdão para meu pai, porque não consegui segurar o que ele tinha me deixado de bem material e que ele tanto amava. Mas também agradeci por ter essa oportunidade de levantar algum dinheiro e disse a ele que tentamos de tudo, sem nos vendermos, sem roubarmos e que continuaremos assim, com a cabeça em paz, sem dormir para manter essa folha, mas tranquilos por fazermos o certo, mesmo com tantas propostas erradas que já recebemos e negamos ao longo dessa jornada.

Desde já, quero deixar claro aqui, que o nosso sigilo bancário está aberto ao Ministério Público a hora que desejar e, sinceramente, não entendo o porquê, antes de tantas acusações de “enriquecimento” não procurarem isso. Quem me dera ter enriquecido e não precisar fazer financiamentos, não precisar vender um bem às pressas para não perdê-lo em leilão e poder pagar um advogado para nos defender de acusações surreais. Quem me dera não ter que ter escolhido entre ficar com o patrimônio ou pagar dívidas, entre garantir um lugar para morar ou garantir o sustento de outras famílias que dependem de nós.

Quero deixar aqui o mais sincero obrigada a todos meus colaboradores que aguentam comigo toda essa pressão. Eles que, todos os dias, enfrentam comigo essa barra que é fazer notícia com verdade e qualidade, sem lucros exorbitantes e diante de tantas dificuldades. Ao apoio irrestrito dos empresários de Guaíra e região, aos assinantes e leitores que apoiam esse jornalismo independente.

Agradeço às minhas filhas que também jamais aceitaram jeitinhos, uma delas a Inara, que ficou à frente do jornal por 6 anos, porque não tinha opção e trabalhou todos esses dias para poder ir embora assim que pudesse e, finalmente pôde. Ela que foi atacada, ofendida, perseguida, pressionada e até assediada, mas, como eu, jamais aceitou qualquer jeitinho. Hoje, a minha filha é mais uma mulher que se arrepende de ter denunciado um assédio, mesmo apoiada pela Procuradoria Geral da Mulher, porque ouve de muitas pessoas que não deveria ter “mexido com isso” e se sente culpada por ter brigado tanto pelo que acreditava: o direito das mulheres de denunciarem assédios. Ela que recomeçou tantas vezes como eu, que foi embora para recomeçar na sua profissão (enfermeira), sem ajuda de ninguém, sem dinheiro na conta, sem indicações e depois de tudo que passou aqui, ainda foi acusada de “fugir”.

Agradeço meu genro Samuel Kruk, que perdeu o pai há uma semana e às vésperas do natal tem, mais uma vez, que receber uma notícia triste dessas, que é ser investigado mais uma vez, por um motivo que é normal para todas as empresas que prestam serviços para prefeitura: aditamento de contrato. De novo nessa época, como foi no final de 2018, mesmo com a justiça tendo negado o rompimento de contrato pedido pelo Ministério Público na outra ação. Ele que se assustou com tudo isso sendo acusado de conluio com a minha filha, em uma época que nem sonhava em conhecê-la (sim, eles foram acusados de conluio durante um período que nem se conheciam). Desejo a ele fé, coragem e paciência para seguir em frente e, junto com ela, seguir firme, porque sei o quanto esses últimos meses tem sido difícil para eles, o quanto esse processo trouxe dificuldades, tristeza, lágrimas e desesperança.

Ao meu marido Lincoln, que me dá forças e é, sem dúvidas, o mais justo, honesto e sensato ser humano que conheço, que me acalma e pede para ter fé de que as coisas vão melhorar.

Enfim, gostaria de dizer ao Ministério Público que faça mesmo o seu papel, procure, denuncie, e, se Deus quiser, encontre os desonestos. Eu aqui do meu canto torço muito por isso e, com a  consciência muito tranquila, tenho certeza que nas nossas transações e comercializações não vão encontrar nada de ilícito.

Quero deixar aqui também que Deus continue abençoando todos os juízes, que lhes dê força, discernimento e que tragam novamente a fé na justiça a todos os brasileiros, inclusive a mim. A única coisa que peço é que quando ficar provado que não houve nada de ilícito, porque não houve, que venham a público dizer. Afinal, ser chacota nas redes sociais, ser acusada de conluio e enriquecimento depois de passar por tudo que passamos realmente não é fácil. E realmente dá vontade de desistir, porque mesmo não tendo nada a esconder, essa situação incomoda bastante e nos fez gastar um dinheiro que a gente já não tinha, causando ainda mais problemas financeiros para quem já vinha passando dificuldade.


Por Izildinha Lacativa | Proprietária do Jornal O Guaíra



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