Bairro Tonico Garcia: abandono do Centro Comunitário e má utilização da Quadra Coberta

Abandonada, depredada, sem iluminação, suja e com odor fétido. Assim está a quadra do bairro; um projeto entregue pela antiga gestão de maneira incorreta e que acabou se tornando alvo de vândalos e local para o tráfico de drogas e a prostituição infantil

Cidade
Guaíra, 5 de agosto de 2018 - 07h36

Alguns cômodos do Centro Comunitário estão recebendo pintura com tintas compradas através de arrecadação de eventos realizados no local

 

 

 

 

 

 

 

 

O Jornal O Guaíra inicia hoje (05), a série de reportagens “Nosso Bairro”, que irá percorrer todas as regiões do município, com o objetivo de estreitar a comunicação entre os cidadãos e as autoridades competentes, abordando as principais reivindicações dos guairenses e apresentando o que está sendo feito pelo poder público.

Nessa primeira edição, serão demonstradas as necessidades do Conjunto Habitacional Antonio Garcia – Tonico Garcia, que está com prédios públicos comprometidos, tanto em questão de infraestrutura quanto de utilização. A equipe de reportagem esteve  no local acompanhada pelo presidente do bairro, Mario Sergio Camargo e também de alguns moradores.

CENTRO COMUNITÁRIO

Entre as demandas para o Centro Comunitário está a concretagem dos fundos do prédio, para evitar que a sujeira prejudique, novamente, a pintura das paredes

 

 

 

 

 

 

 

 

A “menina dos olhos” da Associação de Moradores do Tonico Garcia (ANTOGA) é o Centro Comunitário “Marcilio André”, localizado na Avenida 5A nº 500, que foi, inclusive, alvo de críticas pelas redes sociais na última semana, por causa da pequena cobrança feita para a realização de aniversários e festas de casamento.

Um dos frequentadores não gostou de ser cobrado em R$ 70 para usar a área, que oferece mesas com cadeiras, fogões, geladeira, freezer, churrasqueiras e bancos. O presidente da ANTOGA explicou que a taxa é para manter o imóvel, já que não há manutenção do governo municipal há muitos anos. “Esse valor é cobrado caso a pessoa queira usar as mesas, cadeiras, freezer novo – que compramos com esse dinheiro arrecadado e uma parte do salário da minha filha –, um fogão de duas bocas, dois fogões de quatro bocas, bancos, churrasqueira, e as coisas de lá. Mas, se quiser apenas o salão não é cobrado nada, fica por conta do responsável da festa alugar tudo o que precisar”, esclarece Mario Sergio, mais conhecido como Serjão.

O responsável pela área aponta que somente por causa dessa pequena arrecadação é que eles estão conseguindo pintar o local e manter as pequenas coisas. “Foi com esse dinheiro que conseguimos arrumar os banheiros, que estão mais apresentáveis e, agora, comprar tinta. Nós mesmos estamos pintando, porque não temos condições de pagar mão-de-obra, mas não vamos conseguir pintar tudo porque não tem verba para comprar mais latas. É R$ 70 que cobramos para aniversários e casamentos e R$ 35 para chás de cozinha e de bebê, como uma diária, um valor simbólico, para a manutenção do local, inclusive a limpeza das paredes vem dessa renda.”

Porém, para Mario Sergio, o local não está nas corretas condições de uso. “É necessário fazer um concreto no fundo, pois a terra atrapalha os eventos, os banheiros precisam de uma reforma e tem uma sala, na qual fazem aniversário, que estamos pintando, porque estava numa situação deplorável.”

Nem a limpeza do prédio é feita pela prefeitura. É o próprio presidente do bairro que lava os banheiros frequentemente. “A limpeza sou eu que faço durante a parte da manhã, não tem ninguém do governo que faça isso. Lavo os banheiros, rastelo lá todos os dias – os produtos são fornecidos pela prefeitura, como rodo, vassoura, desinfetante e etc. O centro é usado mais no final de semana e muitos deixam limpo, mas há aqueles que não e, se você vai falar, eles ainda querem brigar. Isso porque nós ainda deixamos tudo para eles, sacos de lixo e os produtos de limpeza.”

Uma das moradoras, que usa o imóvel para as festas de sua família, ressaltou que falta mais atenção do prefeito com aquela região. “Sempre utilizo o Centro Comunitário e não me importo de pagar a taxa, porque sei com o que é feito o dinheiro, mas também acredito que falta mais ação da prefeitura para deixar nosso bairro mais bonito, ela precisa cuidar dos seus espaços públicos.”

Banheiros da Quadra Coberta estão em situação deplorável, completamente sem condições de uso. Espaços estão servindo de ponto para o tráfico de drogas e a prostituição infantil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Melhorias do Centro

De acordo com Mario Sergio, para o momento, o governo municipal gastaria pouco para deixar o Centro Comunitário utilizável e bem apresentável. Seria a manutenção da rede elétrica, acabar a pintura de todo o imóvel e concretar o terreno do fundo. “Acredito que se jogar concreto ali e tirar a grama, o problema da sujeira acaba, pois, iremos pintar ali e daqui uma semana pode ir lá que vai estar tudo sujo novamente, por causa daquela poeira”, expõe.

Todavia, o correto seria uma completa reforma no prédio, que não recebe atenção do poder público desde 2004. “Há alguns anos, chegamos a montar um projeto e fazer um orçamento para uma reforma, como tem que ser feita, e o valor chegou a uma média de R$ 160 mil, mas não sei a quanto iria hoje. Até já levei para o José Eduardo, pedi uma verba para nos ajudar, mas ele disse que não tem recurso para isso”, lamenta o presidente.

A quadra está completamente suja e sem iluminação, já que a fiação foi furtada

 

 

 

 

 

 

 

 

Documentação irregular

A ANTOGA tentou buscar recursos com deputados para uma intervenção do Centro Comunitário. Mas, foi informada de que o prédio está com a documentação irregular e não consegue receber repasses dos governos estadual e federal. “Tem um projeto do governo do Estado, mas o centro comunitário é irregular, tem muitas coisas nele que não estão registradas, cheguei até a conversar com um deputado, levei os projetos, mas ele me disse que a área não está nem averbada. Então, precisa da regularização para conseguirmos repasses. Agora, o jeito é esperar que a prefeitura regularize isso.”

Outro local utilizado para o tráfico de drogas é próximo às tubulações do DEAGUA, deixadas há meses na área

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem projetos culturais

Mario Sergio também tentou levar mais cultura para o Tonico Garcia, porém, não obteve sequer um retorno do diretor de cultura, Sidnei Ferreira. Segundo ele, há salas no Centro Comunitário que poderiam, até mesmo, abrir uma biblioteca com os livros que sobram na Casa de Cultura, ou oficinas de artesanato e dança. “O diretor nem me atendeu”, disse. “O Centro serve para isso, para levar mais entretenimento para a população do bairro. Uma pena que a prefeitura não o utilize dessa maneira.”

Resposta do governo sobre o Centro

Em nota, a atual gestão afirma que cada bairro pode se reunir com o prefeito para apresentar suas demandas, basta agendar reunião com a Chefia de Gabinete do município.

Sobre a cobrança da taxa para utilização do Centro Comunitário, a prefeitura destaca que não era de seu conhecimento essa tal cobrança, “mas deve ser visto o que está previsto no estatuto da Associação de Moradores do bairro, todavia, a administração irá averiguar a legalidade ou não de tal cobrança.”

Quanto a possíveis reformas e data para acontecer, a administração aponta que não só lá, mas todos os centros comunitários dos bairros guairenses necessitam de reparos. “A Administração municipal traçou um cronograma de ações para adequações destes espaços e as melhorias no Tonico Garcia está dentro deste cronograma.”

QUADRA TONICO GARCIA

Abandonada, depredada, sem iluminação, suja e com odor fétido. Assim está a Quadra Coberta do Tonico Garcia; um projeto entregue pela antiga administração de maneira incorreta e que acabou se tornando alvo de vândalos e local para o tráfico de drogas e a prostituição infantil.

Quem passa pela área percebe a frequência de indivíduos mal intencionados, inclusive durante o dia, vendendo e usando entorpecentes sem qualquer preocupação. Além disso, moradores denunciam que adolescentes estão se prostituindo e utilizando os banheiros para isso.

“Da dó ver as meninas que passam por aqui”, lamenta um munícipe, que não quis se identificar. “Já até chamamos o Conselho Tutelar e a Polícia Militar passa às vezes, mas isso acontece frequentemente por aqui”, conta outro.

Em visita ao local, o presidente do Bairro aponta os graves erros cometidos pela empresa responsável pela construção da Quadra, entre eles, o piso irregular. “Ali está feio, a quadra abandonada, não tem nada, falta iluminação, porque roubaram a fiação, os banheiros estão todos estourados sem condições de uso, completamente sujos. Não tem bebedouro, não tem nada. O governo precisará reformar tudo isso aqui, o que custará ainda mais aos cofres públicos, e terá que colocar guarda para evitar que indivíduos estraguem tudo de novo”, alega Mario Sergio.

Resposta sobre a Quadra

De acordo com a prefeitura, a Quadra Coberta foi feita em parceria com o Governo Federal, através do FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação). Porém, a gestão anterior fez a inauguração do espaço, mas o FNDE não recebeu a obra e exigiu a construção do cercamento para dar liberação de uso. “Agora, a atual gestão está realizando o processo licitatório para fazer o cercamento, com recursos próprios para que a população possa usufruir daquele espaço”, assegura o Executivo.

Com relação à segurança, a administração pública realça estará implantando o sistema de monitoramento por câmeras, facilitando as ações da Guarda Civil Municipal, que é o órgão responsável pela vigilância de próprios públicos. “O sistema de monitoramento poderá auxiliar as autoridades no combate à criminalidade, mas cabe ressaltar que casos de tráfico de drogas podem ser denunciados diretamente às polícias civil e militar e os casos de prostituição infantil ao Conselho Tutelar ou diretamente na Vara da Infância e Juventude da Comarca de Guaíra.”

O Jornal O Guaíra entrou em contato com o representante do Conselho Tutelar para buscar respostas sobre o índice de prostituição na região. Entretanto, até o fechamento desta edição, não houve manifestação.


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