Caso do enfermeiro Anderson: segundo o servidor, comunicado de sua transferência ocorreu um dia antes da prova feita em local de trabalho

Polêmica em torno do afastamento do funcionário público gerou alvoroço nas redes sociais durante a semana. Entenda o caso e veja o posicionamento das partes envolvidas

Política
Guaíra, 11 de junho de 2021 - 14h30

Na tarde de segunda-feira, 07, os internautas se viram surpreendidos com um vídeo do servidor municipal e vereador Anderson Enfermeiro, o qual vinha a público dizer à população que havia acabado de ser informado sobre o seu reenquadramento no serviço público, deixando assim de fazer parte da equipe do SAMU em Guaíra.

No vídeo, Anderson relatou não concordar com a motivação de tal medida por parte da secretaria municipal de saúde e encerrou suas declarações se despindo do uniforme. Tal postagem foi motivo de grande alvoroço nas redes sociais e os munícipes questionaram sobre os fatos que ocasionaram tal medida.

Na manhã de quarta-feira, 08, o jornal O Guaíra buscou as partes envolvidas e recebeu, por parte da prefeitura, um vídeo do secretário municipal de saúde, Jorge Uatanabe do Prado, falando sobre o caso. Segundo ele, o motivo da transferência aconteceu após uma denúncia anônima para a Ouvidoria do governo municipal, alegando que o servidor Anderson Lima teria, em horário e local de trabalho, e usando o uniforme de socorrista, realizado uma prova para o cargo de enfermeiro na nova UTI que será instalada na Santa Casa de Misericórdia de Guaíra. “Há uns 10 dias, ou se eu não me engano na segunda-feira da semana passada, houve uma denúncia na ouvidoria na prefeitura municipal de Guaíra aonde estaria funcionário em horário de serviço usando uniforme do serviço fazendo uma prova de admissão para ser enfermeiro da nova UTI da Santa Casa de Misericórdia de Guaíra. A denúncia foi acompanhada com foto e declarações”, disse Jorge.

Para ele, o agravante da situação foi o não atendimento a um chamado ou atraso do mesmo, já que foi relatado que o pedido aconteceu às 11h41 e concluído às 12h49; o chamado se tratava de uma transferência de um paciente até Barretos para a realização de uma tomografia. Uatanabe afirma ter ocorrido no Serviço de Ouvidoria reclamação proveniente dessa situação, constando inclusive na denúncia provas documentais fotográficas; tal fato, segundo relatou no vídeo, aconteceu há 10 dias. Em suas declarações, ele ainda apontou que o superior direto do servidor questionou sobre tal acontecimento e Anderson negou o ocorrido.

Do outro lado, Anderson Aparecido de Lima falou à nossa reportagem e esclareceu que fez a prova em horário e local de trabalho, ou seja, dentro do antigo Pronto Socorro, onde funciona a base do SAMU e assim não se ausentou, não causando prejuízo ou mesmo atrapalhando o seu trabalho. Ele menciona que nos relatórios do SAMU Barretos, onde funciona a central responsável por todos os atendimentos do SAMU de Guaíra, não houve nenhuma ocorrência não atendida no horário usado para o preenchimento das questões da prova e ainda enfatizou que em nenhum momento se afastou, estando sempre atento ao rádio e telefone do SAMU. Segundo ele está tudo registrado e gravado na central de atendimento.

Anderson afirmou que foi convidado para fazer a prova, visto que houve um número pequeno de inscritos para o cargo e em caso de necessidade o mesmo poderia ajudar, já que mediante a conclusão da prova estaria apto para a função.

Sobre a transferência do paciente para o exame de tomografia em Barretos, o enfermeiro esclareceu que a solicitação foi realizada por uma técnica de enfermagem da Santa Casa através de um grupo de WhatsApp que ele mesmo criou com o intuito de agilizar esses atendimentos, e que não demorou mais de meia hora. Ainda sendo mais preciso, mencionou ter sido necessário 37 minutos para o atendimento da transferência.

Para esse tempo de espera, o enfermeiro Anderson explicou que vários procedimentos devem ser feitos no veículo: “A ambulância tem que ser montada quando vai fazer a transferência; é necessário  colocar respirador, monitor, aparelho de pressão, oxímetro de pulso, malas com medicamentos, você tem que colocar várias coisas nessa ambulância, pois uma  ambulância de transporte não tem todos os equipamentos, não é uma unidade avançada, trata-se de uma unidade básica. Então, quando vamos fazer transferência, temos que colocar os materiais”, explicou. “Às vezes, até colocar um paciente de ambulância e transferir, desmonitorizar todo ele até que você transfere todo equipamento para ambulância e leva esse paciente e estabiliza, demora até horas e tudo isso foi feito em 37 minutos, desde o momento da solicitação até a transferência”, relatou.

ERROS E PERSEGUIÇÃO

Em sua análise dos fatos recentes, Anderson Lima afirmou que a solicitação de transferência do paciente foi realizada por uma Técnica de Enfermagem da Santa Casa, em seu celular particular, o que foge da conduta estabelecida, uma vez que tal chamado deveria ter sido realizado ao SAMU de Barretos e assim repassado aos profissionais de Guaíra.

Sobre a questão de perseguição, que foi mencionada pelo secretário municipal de saúde Jorge Uatanabe do Prado, o mesmo enfatizou em seu vídeo que não existe caça às bruxas e sim a não prevaricação: “ … a secretaria não está fazendo caça às bruxas, a secretaria só não está prevaricando, a secretaria só não está deixando de um acontecimento desse, um munícipe possa até correr risco de vida enquanto o funcionário em horário de serviço, digo bem, em horário de serviço, usando uniforme estaria fazendo uma prova para outro emprego. Isso, em funcionalismo público, é aberto um processo administrativo, e o processo administrativo não é aberto pelo secretário da saúde, isso aí vai para o setor jurídico e daí quem decide são outros setores. Então, eu digo para vocês que não há perseguição contra funcionários. Agora, não venha me fazer coisa errada, isso nós não podemos admitir; funcionário público é processo administrativo, se fosse na rede privada, com certeza demissão por justa causa”, expôs Jorge Uatanabe.

A JUSTIFICATIVA DA PREFEITURA NÃO BATE COM AS DECLARAÇÕES DO ENFERMEIRO

Anderson ainda confidenciou que o comunicado de sua transferência foi feito no dia 24 de maio, pela chefe do setor da prefeitura e que a prova que ele realizou em horário de trabalho foi feita no dia 25 de maio, um dia depois. Ou seja, a sua realocação de cargo não é justificada pelo fato, como foi alegado pelo secretário de saúde. O servidor ainda diz que, já no dia 21 de maio, Jorge Uatanabe queria a sua transferência e que isso foi mencionado no momento do comunicado.

Além disso, o enfermeiro conta que o secretário estaria tentando retirá-lo do SAMU desde março. Ele afirma que após o seu vídeo postado em  17 de março, o qual sugeria que o antigo Pronto Socorro fosse utilizado como gripário durante a pandemia do COVID-19, Uatanabe ordenou à administradora da Santa Casa que Anderson fosse demitido em até 15 dias, o que não foi acatado pela equipe do hospital.

O Jornal O Guaíra questionou prefeito e secretário sobre essas duas questões anteriores ao dia da prova realizada, mas, até o fechamento dessa edição, ainda não havia obtido retorno.

POSICIONAMENTO DO SINDSERV

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Guaira, através de seu presidente Rodrigo Soares Borghetti, declarou que este é mais um caso de “desmando” por parte da secretaria de saúde, pois há pouco tempo, um motorista do SAMU foi afastado após postagem de áudios em rede social falando sobre o número de mortes por COVID-19 em Guaíra. Borghetti mencionou que o afastamento se deu sem sindicância ou mesmo processo administrativo, assim como acontece agora com Anderson. “O enfermeiro do SAMU socorrista, o Anderson, que também é vereador, servidor concursado, sem direito, sem sindicância, sem embasamento, sem provas demonstradas em procedimento, nos autos, foi punido sem o devido processo de sindicância”, comentou.

Para ele, o secretário de saúde deveria ter enviado ofício ao prefeito para que fosse aberto um processo de sindicância com o intuito de investigar a conduta do servidor e, posteriormente, nesse processo de sindicância, com todas as provas, inclusive as provas fotográficas relatadas, a denúncia da ouvidora com número de protocolo e processo, o servidor fosse transferido.

Na opinião de Borghetti, a “administração está enfiando os pés pelas mãos e muito disso se deve ao despreparo de pessoas que ocupam cargos importantes”. No que diz respeito ao que está ocorrendo com o servidor Anderson, o presidente do Sindserv comentou que o mesmo é sindicalizado e que toda a estrutura jurídica da instituição já está empenhada no caso para que ele recorra aos meios legais.


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