Colunista

Tapando o sol com a peneira

Não tinha data melhor para a Anvisa entrar em campo, em um jogo transmitido para o mundo inteiro, em um dos maiores clássicos do futebol mundial, e mandar parar o jogo. Pela proximidade do 7 de setembro, a atitude fez aflorar o patriotismo, o orgulho nacional, ainda mais, como muitos gostam de dizer, contra os argentinos (triste, isso). 

Precisamos de cuidado, exatamente porque esse tipo de comportamento e pensamento nos coloca um véu (bem grosso, diga-se de passagem) que nos impede de ver a realidade.

Não vou me referir aqui a questões jurídicas porque a Anvisa e a Polícia Federal, ainda no aeroporto, teriam condições de não permitir a entrada dos argentinos, já que, sabidamente, eles estavam vindo para jogar e não iriam fazer quarentena. A questão, aqui, é puramente sanitária.

Partindo do princípio real de que o vírus não tem cérebro, não faz escolhas, não tem nacionalidade, tampouco viés político, é, no mínimo estranho, termos uma portaria de um órgão responsável pelas questões sanitárias, que diferencie o comportamento de pessoas de seu país e estrangeiras que venham da mesma área. Para nós que aqui já estávamos, o risco sanitário é o mesmo (lembrando aquele primeiro voo dos brasileiros que vieram da China: cumpriram quarentena).

Ademais, se os quatro argentinos teriam que fazer quarentena (por questões sanitárias… nada a ver com soberania nacional), todos os outros jogadores e membros da comissão técnica, também deveriam, já que estavam trabalhando juntos (incluindo um jogo na Venezuela) há dias. Portanto, o risco sanitário dos que vieram da Inglaterra e dos outros era o mesmo.

Ainda, a partir do momento em que os argentinos entraram em campo, tiveram contato com os jogadores brasileiros, membros da CBF, da Conmebol, equipe de arbitragem, e com agentes da Anvisa que foram ao estádio, na beira do gramado, também passam a correr riscos de serem agentes transmissores. Assim, todos, sem exceção, deveriam, naquele momento, sair do país, ou cumprir quarenta (lembrando que o vírus não sabe ler e, por isso, e por outras, não vai obedecer a portarias, nem se preocupar com soberania nacional, nem se estávamos perto do dia 7 de setembro).

Ficar regozijado (por ser contra a Argentina, pela soberania nacional, pela lei) não muda a realidade, nem atua, nem aumenta o risco. O fato é que, portarias com furos e a escolha de “bodes expiatórios” (fechando os olhos para autoridades sem máscara, para demora na vacinação e pelo fato de que todos que entraram em contato com os argentinos, supostamente portadores do risco, estarem circulando livres e soltos etc.), passa longe de ser rigidez sanitária (seria ótimo tê-la). É tapar o sol com a peneira.

Pense nisso, se quiser, é claro!

 

Prof. Ms. Coltri Junior é estrategista organizacional e de carreira, palestrante, adm. de empresas, especialista em gestão de pessoas e EaD, mestre em educação, professor, escritor e CEO da Nova Hévila Treinamentos. www.coltri.com.br; Insta: @coltrijunior 


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