Com suas receitas, índio faz sucesso na feira livre e na internet

O xavante Gideon esteve na feira de domingo e preparou sua garrafada medicinal com mais de 100 ervas. Vídeo de sua passagem pela cidade na fanpage de O Guaíra foi sucesso

Cidade
Guaíra, 15 de março de 2018 - 09h49

O índio Gideon esteve presente na feira livre e preparou garrafadas com ervas medicinais

O último domingo (11) foi diferente para os visitantes da Feira Livre Tomozilo Miada, localizada na avenida José Flores, no trecho que compreende entre as avenidas 25 e 19, com a presença de um índio xavante, que montou sua tenda em um terreno ao lado do primeiro galpão.

Gideon, pertencente à etnia xavante, aldeia de Várzea Grande (MT), chamou a atenção de muitas pessoas que se aglomeraram na barraca. Ali, ele expôs todas suas ervas, raízes, sementes, bebidas e artesanatos indígenas que estavam sendo comercializados. Com ajuda de um outro jovem, ele fez a apresentação da sua cultura para os guairenses.

Utilizando um microfone sem fio acoplado a uma caixa de som, ele preparava uma garrafada com mais de 100 ervas medicinais e também comercializava os produtos e artesanatos que estavam expostos na barraca. “Eu preparo na hora, para as pessoas verem como é. É uma garrafada medicinal, que cura diversas doenças”, comentou.

Cada garrafa, que segundo o índio poderia curar várias doenças, custava R$ 50 e era preparada com as ervas e água mineral que ele retirava de uma caixa fechada. “Deve tomar três vezes ao dia, antes do café, do almoço e do jantar. Ela é amarga, mas quero ver se tem uma doença que não coloca para fora do corpo”, confirmou.

E muitas pessoas compraram a garrafada medicinal do Gideon, na esperança de encontrar a cura para alguma doença. O certo é que os domingos da feira sempre trazem algo diferente. Desta vez foi o índio raizeiro que prometeu a cura através dessa bebida de ervas medicinais.

OS XAVANTES

Os xavantes são um grupo indígena que habita o leste do estado brasileiro do Mato Grosso, mais precisamente nas reservas indígenas de Areões, Marechal Rondon, Parabubure, Pimentel Barbosa, São Marcos, Áreas Indígenas Areões I, Areões II, Maraiwatsede, Sangradouro/Volta Grande, Terras Indígenas Chão Preto, Ubawawe, bem como o Noroeste de Goiás, nas Colônias Indígenas Carretão I e Carretão II.

Espalhados pela região da Serra do Roncador e do Vale do Araguaia, os Xavantes já dominaram grande parte da região Centro-Oeste brasileira. Originários de Goiás, migraram para o Mato Grosso no século XIX fugindo dos aldeamentos de colonização no interior do estado.

A migração durou alguns anos e, após atravessarem o Rio Araguaia, entraram em conflitos com os índios Karajá que ocupavam a região da Ilha do Bananal. Posteriormente, brigas internas causaram a divisão da etnia em várias aldeias, que se espalharam e povoaram o vale do Rio das Mortes, iniciando os primeiros contatos com o não-índio.

O SEGREDO DOS ÍNDIOS

Em uma briga entre lagarto e jararaca, a cobra leva a melhor. A picada dela o deixa fraco, perto da morte. Mas ele é esperto: foge da briga e corre atrás de remédio. Mastiga umas folhas e, dias depois, fica forte novamente. O índio, na espreita, acompanha todo aquele processo. Se alguém for picado por uma jararaca, ele corre em busca daquela mesma planta mastigada pelo lagarto. Primeiro, testa o remédio. Se der certo, a planta entra na lista de medicações daquela aldeia. Foi assim que, ao verem animais machucados roçando em uma árvore, os índios descobriram o poder cicatrizante do óleo de uma árvore chamada copaíba, por exemplo.

O acúmulo de conhecimento se dá ao prestar atenção nas semelhanças entre formatos e cores das plantas e as doenças que elas combatem. Por exemplo, a madeira amarela de um tipo de abútua, uma trepadeira, e a seiva amarelada da caopiá, árvore também chamada de pau-de-lacre, são usadas para curar doenças no fígado. Em casos de tosse com sangue, comem Boletus sanguineus, um tipo de cogumelo vermelho. Já a raiz em formato de serpente da parreira-brava serve para curar mordida de cobra. E se for picada daquela jararaca, dá para se livrar do veneno com o sumo da planta Dracontium polyphyllum – as cores do caule lembram a pele da cobra. Os índios repararam em outros detalhes, como no látex que sai da casca de algumas árvores. Exposto ao ar, o líquido parecia um verme. Logo, aquele podia ser um bom remédio para lombriga.

VIDEO NO FACEBOOK

Nossa reportagem gravou um vídeo de 1 minuto e 37 segundos com a apresentação do índio xavante Gideon na feira livre. A publicação foi um grande sucesso, ultrapassando as 2 mil visualizações, em dois dias. Além disto, recebeu diversas curtidas, comentários e compartilhamentos.

Algumas pessoas comentaram sobre a importância da cultura indígena e outros lamentaram que sua presença na feira livre não foi divulgada. Realmente, até a nossa reportagem foi surpreendida com a presença do índio na feira. Esperaremos outra oportunidade. Se você quiser ver o vídeo, vá lá na nossa fanpage: jornaloguaira.


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