
Como o processo é burocrático e sofreu muitos percalços no meio do caminho, somente agora a prefeitura conseguiu, juntamente ao Governo do Estado de São Paulo, a confirmação do início da construção dessas residências.
Para explicar exatamente o histórico de toda essa conquista, a prefeitura respondeu aos questionamentos do Jornal O Guaíra e enviou todos os dados sobre o início da busca por estes imóveis.
Casas da CDHU para Guaíra
O pedido de casas populares para a CDHU, na época 400 unidades, ocorreu no mandato do prefeito, José Carlos Augusto (2008 a 2012). A área em negociação naquele momento era a mesma onde serão construídas as atuais 232 unidades, situado aos fundos do bairro João Vaccaro.
Ocorre que, em novembro de 2009, primeiro ano de mandato de José Carlos, a Câmara dos Vereadores acrescentou à Lei Municipal 1.632 (Uso e Parcelamento do Solo Urbano) o parágrafo 4º do artigo 24, que prevê a proibição de edificações a menos de 500 metros de distância de lagoas de tratamento de esgoto. Esta mudança inviabilizou a gleba que seria destinada à doação para a CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano. José Carlos chegou então a buscar a possibilidade de se utilizar o terreno atrás da APAE, o que também não deu certo.
Concomitante à mudança na legislação local, a Cetesb – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – notificou o DEAGUA (Departamento de Esgoto e Água de Guaíra) sobre a impossibilidade do sistema de tratamento de esgoto da Lagoa do Fogão receber a carga de dejetos de um empreendimento imobiliário de grande porte, como o das casas populares, solicitado então pelo prefeito José Carlos, que, em resposta à exigência da Cetesb, solicitou no Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) recursos para a formulação de um projeto que solucionasse o problema dos efluentes na cidade; tendo em vista que a Cetesb já tinha pareceres contra os conjuntos de tratamento Lagoa do Fogão e Lagoa do Matadouro.
Guaíra recebeu a verba estadual e o DEAGUA providenciou a formulação de um grande empreendimento: a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) com seus 8 km de emissários, três reatores e estação elevatórios com custo de mais de R$ 7 milhões. Ainda como prefeito, José Carlos deu entrada no pedido na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) de verbas para a obra que liberaria a construção de casas populares.
As vistoras e as verbas ocorreram no mandato do prefeito Sérgio de Mello, que licitou e iniciou o empreendimento e, desta feita, a área nas proximidades do João Vaccaro se tornou viável novamente. Com este foco, Sérgio negociou novamente e comprou a parcela de terreno de Dona Badia, iniciando os procedimentos para doação à CDHU. A companhia de controle estadual já havia definido que seriam 232 casas, não mais as 400 pedidas.
A obra de esgoto foi iniciada efetivamente em outubro de 2015. Uma construção complexa que desvia todo o esgoto de Guaíra para o sistema de tratamento da Santa Quitéria (saída para o Guaritá) onde já estão instalados reatores já interligados aos emissários que vêm da Lagoa do Matadouro e do Fogão. Obra que na licitação custou quase mais de R$ 6 milhões. No entanto, por ser uma construção paga com recursos federais, estava susceptível às turbulências políticas de Brasília, o que resultou em atrasos nos pagamentos da construtora, que foi à falência e paralisou o trabalho. Nesse interim, a Câmara dos Vereadores aprovou a Lei de doação dos 232 terrenos para a CDHU.
O decreto doando o terreno para a CDHU foi assinado e publicado pelo prefeito José Eduardo Coscrato Lelis, no começo do seu mandato, em 2017, e o pedido de moradias populares continuou a correr na alçada estadual de governo.
Ocorreram as eleições de 2018 e o processo de licitação para a construção das casas, que é competência e responsabilidade do Estado, foi frustrado duas vezes por erros no procedimento, sendo efetivamente realizado apenas em dezembro de 2019.
Ainda durante as intercorrências das licitações estaduais fracassadas, o atual prefeito teve que providenciar levantamentos da obra abandonada da ETE, autorização e incremento de verbas junto à Funasa, para fazer uma nova concorrência e contratar outra construtora e terminar as obras de tratamento de esgoto, uma vez que a Cetesb só libera a ocupação das moradias com o novo complexo de destinação de dejetos em funcionamento.
No que tange ao Estado, com a licitação já finalizada e homologada, com assinatura de contrato da empresa vencedora do certamente já efetivada, a CDHU definiu o período de inscrições, contando com Prefeitura para ajudar na execução das inscrições, de 6 a 10 de fevereiro. Ressalte-se que todos os critérios são determinados pela CDHU. A parte da Prefeitura foi a doação do terreno e execução das obras de esgoto, além de disponibilizar pessoal e estrutura física para inscrição das pessoas com dificuldades de assimilação das novas tecnologias, uma vez que o cadastro para concorrer às unidades é feito exclusivamente pela internet.
Em suma, devido às particularidades de Guaíra, como a escassez de terras de valor condizente com as moradias populares, a necessidade de refazer todo sistema de esgoto, turbulência política no cenário nacional entre outros entreveros, o processo para obter moradias populares em município passou pelos mandatos dos três prefeitos, José Carlos Augusto, Sérgio de Mello e José Eduardo Lelis.

