CONTO – Efeitos colaterais

Geral
Guaíra, 16 de abril de 2017 - 07h37

— Oi Ni, eu preciso falar uma coisa pra você.

— O que foi Guto? Alguma coisa errada?

— Não querida. Eu queria apenas dizer que estou cada vez mais apaixonado por você. Nossa relação está tão boa. Você está tranquila, de bem com a vida…

— Ah querido, que bom ouvir isso! É sinal de que o tratamento que estou fazendo está dando certo.

— Que tratamento é esse Nini?

— Se lembra de que há alguns meses eu comentei com você que iria começar um tratamento a base de chocolate?

— Sim. Lembro-me vagamente. Confesso que não dei muita importância, mas e aí?

— Pesquisas recentes dizem que quando aumentamos o nível de açúcar no sangue, cai a possibilidade de nós mulheres ficarmos nervosas e consequentemente diminui a probabilidade de ocorrer brigas entre os casais. Eu vi nas redes sociais e confirmei com minhas amigas que fizeram o tratamento. Todas elas disseram que se comermos doces de modo geral, especialmente chocolates, nós acabamos ficando mais calmas, inclusive na TPM. Só temos de tomar cuidado com as calorias.

— Nunca ouvi isso Nicete!

— É verdade Guto. Você não notou a diferença?

— Bem isso eu notei. Você está mais carinhosa, tranquila, delicada…

— Lembra quando eu dava aquelas surtadas?

— Nossa Nini, nem quero me lembrar! A vizinhança vinha saber se alguém tinha se ferido, se era necessário chamar a polícia, a imprensa ou a ambulância. Não necessariamente nessa ordem.

— Gu, tinha vizinho que antes de vir saber o que havia ocorrido já chamava as três.

— A dona Isolda, da última vez, chamou até a “Cruz Vermelha”. Lembras-se?

— É verdade amor! Nossa, que vergonha Guto!

— Não pense nisso, Nini. Passou. Até as crianças perceberam.

— Verdade? O que elas disseram?

— Ah! Você agora faz tarefa com elas com calma, não se descabela mais quando elas erram a tabuada, não as prende mais na despensa sem celular…

— Nossa! Sabe Gu, eu fazia isso e não percebia!

— Pois é. Há quanto tempo não acontece isso?

— Então, desde que comecei meu tratamento.

— Mas como é, afinal, esse tratamento, amorzinho?

— Eu tenho que comer um bombom de oito em oito horas.

— Interessante!

— Por isso, faço tudo rapidinho com alegria, com bom humor, com satisfação, pois sei que dali a pouco, serei recompensada com um bombom de chocolate. Hummm! Que delícia!

— Pois olha, não sei quem inventou esse tratamento, mas eu sou prova viva que está dando certo.

— Ah querido que bom! Nossa relação melhorou, não tenho brigado mais com sua mãe e consegui fazer com que a diarista voltasse a trabalhar pra gente. Enfim, tudo está melhorando na nossa vida.

— Até o sexo melhorou!

— É verdade Gu, inclusive o sexo! Viu que coisa boa! Nossa relação está mais saudável, mais regular, mais prazerosa!

— Claro que vi. Inclusive você está mais gordinha, mais fofinha, gostosinha. Eu estou tendo onde pegar. Lembra que antes você era tão magrinha que não tinha nem onde eu pegar, agarrar, dar uns tapinhas…?

— Como é que é, Antônio Augusto?

— Nosso relacionamento… Está mais emocionante… Você está mais gostosa… Querida, você está…

— Não, não, não. O que você disse antes? Eu estou mais o quê?

— Como: “mais o quê”? É o que eu falei. Você está mais gostosinha, mais…

— GORDINHA?

— Não. Eu quis dizer mais cheinha, mais fofinha, mais gostosinha. Agora eu tenho onde pegar…

— Pois fique sabendo Antônio Augusto: gordinha é a senhora sua mãe. Quero o divórcio.

— Mas querida eu só estou dizendo que…

— Cala a boca. Calhorda, safado, nojento, imbecil. Onde já se viu me chamar de gorda.

— Mas Nicete querida eu não te chamei de…

— Fecha essa matraca, idiota, estúpido, ignorante…

— Querida, por favor…

— Não me chame de querida, seu hipócrita. Depois de me ofender, vem querer me agradar. Não me chame de querida.

— Mas amor…

— Amor coisa nenhuma. Eu vou embora daqui, não quero mais saber de você.

— Mas pra onde você vai, aqui é a nossa casa…

— Não interessa. Vou pra casa do chapéu, vou sair por aí. Não quero saber de um cafajeste, cretino, ordinário como você. Falso, egoísta, egocêntrico, ridículo, mentiroso, grotesco, bajulador…

— Amor, por favor, entenda…

— Chega de conversa, eu vou embora…

— Amor, calma, eu vou pegar um bombonzinho pra você se acalmar tá bem, fofinha? Melhor, um ovo de páscoa.

— Cê qué morrê, né Antônio Augusto?

— Nicete, amorzinho, coloque o microondas no lugar. Por favor.

— Eu vou te matar Antônio Augusto, eu, eu… Eu vou te esfolar vivo Antônio Augusto… Filho de uma… E VAI SER AGORAAA…

Por Camilo Geraldo Garcia Prado

 

 

 

 


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