Depoimento de um guairense: como as drogas mudam a vida de uma pessoa

Mantendo o anonimato, o Jornal O Guaíra gravou mais um depoimento de um ex-usuário, que encontrou em Narcóticos Anônimos forças para viver melhor

Cidade
Guaíra, 13 de janeiro de 2018 - 08h48

Desde que surgiu em Guaíra, o Narcóticos Anônimos tem conseguido retirar muitas pessoas do mundo das drogas, através de suas reuniões e discussões do Grupo Resgate Vida, realizadas de segunda, terça, quarta, sexta e sábado às 20h e domingo às 10h. Os encontros acontecem na Avenida 29, no Centro Catequético N. Senhora Aparecida e são abertos para todos aqueles que precisam de ajuda.

Uma dessas pessoas, que teve sua vida modificada através do NA, resolveu dar seu depoimento ao Jornal O Guaíra, com o objetivo de mostrar à população que há saída para as drogas e que uma delas é o apoio do Grupo.

Confira o depoimento na íntegra:

“Minha vida com as drogas começou bem cedo. De pouco em pouco eu já estava entregando a minha destruição em festas com amigos que, aliás, em nenhuma delas eu tinha limite e inúmeras vezes passava muita vergonha nos lugares onde frequentava.

Com o passar do tempo, a minha degradação foi aumentando e perdendo a noção da tamanha insanidade que já me encontrava. Pulei muros e andei quilômetros atrás de uma droga; omitia, mentia e manipulava a minha família que, por fim, até mesmo eu comecei a acreditar nas minhas próprias enganações.

Na madrugada, com chuva ou sem ela, lá estava eu a procura do que me ‘confortava’ momentaneamente. Ao passar o efeito que a droga me trazia, me debruçava em prantos da depressão, onde muitas dessas noites passava em claro, sozinho e no quarto.

Tudo o que eu fazia não saciava e sempre queria mais. Troquei família, amigos, a minha saúde e me isolei em um profundo poço. Mesmo acontecendo tantas coisas ruins, só fazia promessas a mim mesmo, acreditando que eu poderia parar quando eu quisesse. Mas sabia que as drogas já tinham me dominado. Comecei a me expor descontroladamente, sem me preocupar com as consequências, com as doenças, com nada. Nesse período, já não tinha mais esperanças, porém, meu orgulho sempre estava a frente de qualquer circunstância. Eu usava para viver e vivia para usar. Se tornou o ‘amor’ da minha vida.

Não conseguia mais trabalhar correto, ter uma vida social, amizades e tantas outras coisas, porque o que me alimentava já estava ao meu lado. Minhas forças e meus orgulhos foram enfraquecendo; eu já estava com muitos problemas de saúde, inclusive com 20 quilos a menos, foi quando, no ápice do sufoco, pedi ajuda. A minha família, vendo toda a situação acontecendo, ergueu suas mãos e me ajudou.

Passei por meses, semanas e muitos dias difíceis e nesse processo de melhora da vida foi apresentado à irmandade de Narcóticos Anônimos. Mesmo com receio de muitas coisas, fui aos poucos fazendo tudo o que me era sugerido. Via pessoas naquela sala, batendo palmas para mim; muitas dizendo seus tempos de sobriedade e com isso realmente comecei a acreditar, pensando que, se eles conseguiam, eu também poderia conseguir.

Foi-me apresentada muita coisa: leituras, folhetos explicativos, entre outras. Porém, o que mais me atraiu naquele lugar ainda um pouco desconhecido para mim era que tudo era sugerido e não obrigado.

Aos poucos fui me sentindo orgulhoso em estar limpo e mesmo na tamanha dificuldade, fui entendendo, através dos companheiros, que existe um programa e se eu o vivenciasse todos os dias, funcionaria para mim também.

Foi quando dei o ‘pontapé’ na admissão, na aceitação, que havia perdido para as drogas e faria qualquer coisa para eu continuar limpo.

Peguei contato das pessoas e passei a ir ao máximo de reuniões que poderia, porque me diziam a todas elas que o grande segredo era continuar voltando e foi o que eu fiz.

Passou-se o tempo e hoje me encontro, graças ao Poder Superior, com o mesmo intuito, evitando lugares, situações, pessoas, fazendo o inverso que eu fazia. A programação me ensinou o que é ser honesto, sincero, verdadeiro, ter empatia e tantas outras coisas.

Os frutos que colho hoje são frutos da minha mudança de vida, dos meus hábitos. Vejo, nos olhos de cada família, a alegria e o orgulho da pessoa que dia-a-dia estou me tornando. Meu trabalho, meu convívio social e pessoal é diferente, porque eu fiz uma escolha e acredito que, quando se faz uma escolha, preciso me desprender de outras. Essas outras deixo no meu passado e vivo o presente só por hoje, desde ao acordar até ao dormir.

Dificuldades ainda tenho, e muito, porém, a programação de Narcóticos Anônimos me ensinou, através das ferramentas necessárias, que é para usá-las quando é preciso. Não me sinto mais sozinho, pois sei que além de ter um poder superior, tenho pessoas, companheiros que quando mais preciso escuto um ‘estamos juntos’.

Por isso continua voltando às reuniões, ouvindo os conselhos e partilhas que lá acontece. Acolho cada palavra para a minha vida e sei que essa nova maneira de viver só tem a acrescentar na minha trajetória. Lugar onde estão meus verdadeiros amigos, pessoas que, como eu, me entendem, me compreendem e jamais me julgam. Lá acontece a ajuda mútua e, como diz a 12ª tradição: ‘O anonimato é o alicerce espiritual de todas as nossas tradições, lembrando-nos sempre de colocar princípios acima de personalidade’.

O que se fala no grupo permanece no grupo; levar a mensagem e deixar o mensageiro. Por fim, só se faz 2 anos, 1 mês e alguns dias que me encontro limpo, sem mexer com nenhuma substância que altera meu humor ou minha mente. Continuarei nesse propósito, vivendo o ‘só por hoje’ e acreditando na dádiva que a recuperação me traz.”


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