15 de Novembro: A República que Ainda Não Chegou

Editorial
Guaíra, 16 de novembro de 2025 - 13h57

Ontem o Brasil marcou mais um aniversário da Proclamação da República, a data que deveria simbolizar o início de um país guiado pela cidadania, pela liberdade e pelo poder do povo. No entanto, 135 anos depois, foi preciso encarar uma verdade incômoda: proclamamos a República, mas nunca a vivemos plenamente.

O que se viu foi uma nação ainda prisioneira das mesmas lógicas de poder que atravessaram séculos. A política continuou funcionando como um clube fechado, onde poucos decidem por muitos. O povo, no máximo, foi convidado a votar de tempos em tempos, mas raramente foi ouvido de verdade. Houve reformas que prometeram mudanças, mas foram apenas ajustes cosméticos num sistema que insiste em se proteger.

Assim, a República de Marechal Deodoro nunca saiu do papel. O Brasil de ontem, e de hoje, mantém instituições de fachada, discursos inflamados e rituais democráticos que não se traduzem em justiça, eficiência ou igualdade. Falou-se em democracia, mas convivemos com privilégios. Falou-se em modernidade, mas seguimos tolerando a velha prática de confundir Estado com patrimônio privado, usado para consolidar poder, barrar investigações, favorecer aliados ou punir adversários.

Celebramos uma República que nasceu entre quartéis e elites, e que segue sendo administrada, em muitos momentos, como um projeto restrito, distante da vida real da população. O cidadão, que deveria ser o centro do ideal republicano, continuou sendo espectador de uma peça mal ensaiada sobre moralidade pública e respeito institucional.

Se o 15 de novembro representou um marco histórico, ele também deixou um alerta. A Proclamação foi apenas um início, e um início incompleto. O verdadeiro desafio continua sendo fazer a República acontecer de fato, com transparência, responsabilidade e compromisso real com o bem comum.

Porque uma República não se sustenta em datas, discursos ou cerimônias. Ela se sustenta em prática, ética e coragem. E o Brasil ainda está devendo isso à sua própria história.


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