A cadeira vazia

Editorial
Guaíra, 22 de outubro de 2025 - 14h30

Quando o problema não é a falta de gente, mas a falta de sentido

A cadeira está lá, no escritório, na escola, na fábrica. Às vezes nova, às vezes gasta, sempre à espera de alguém que não veio. Muita gente chama isso de “apagão de mão de obra”, dizendo que faltam pessoas dispostas, que há vagas de sobra e trabalhadores de menos. Mas talvez o vazio que tanto se comenta não esteja nas cadeiras, talvez seja o reflexo de algo mais profundo: o esvaziamento de sentido em estar ali.

Durante muito tempo, o trabalho foi sinônimo de sobrevivência. Sentar-se naquela cadeira era o caminho para garantir o pão, o futuro, o nome limpo. Mas os tempos mudaram. Hoje, o ato de estar ali exige mais do que presença física. As pessoas não querem apenas um emprego; querem propósito. Querem saber o porquê e o para quê daquilo que fazem. E quando o trabalho se resume a cumprir horas, metas e ordens sem significado, o corpo até comparece, mas o espírito já foi embora há muito tempo.

Talvez a cadeira vazia não simbolize falta de mão de obra, e sim falta de vontade de ocupar o vazio sem propósito. Talvez o que falte não sejam profissionais, mas motivos para permanecer. Porque onde não há reconhecimento, escuta e pertencimento, o trabalho vira apenas um lugar de passagem, uma rotina sem alma.

Empresas, escolas e instituições ainda se esforçam para preencher cadeiras, mas ignoram o essencial: o desafio não é ocupar o assento, é restaurar o significado de ocupá-lo. É compreender que pessoas não são números nem peças substituíveis; são histórias, talentos e emoções que florescem quando encontram sentido no que fazem.

O verdadeiro apagão não é de mão de obra. Talvez seja de propósito. E até que esse propósito volte a iluminar o ambiente de trabalho e de aprendizado, muitas cadeiras continuarão vazias, mesmo quando alguém estiver sentado nelas.


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