Há uma confusão antiga, quase enraizada na cultura brasileira, sobre o que significa “fazer política”. Para muitos, a imagem do bom político é a daquele que caminha pelas feiras, que distribui abraços calorosos, que sorri para fotos e que tem sempre um aperto de mão disponível. Claro, a simpatia é uma virtude e o contato humano é essencial; ninguém quer ser governado por máquinas ou burocratas inacessíveis.
No entanto, reduzir a política a gestos de afeto é um erro perigoso. O abraço acolhe, mas não cura. O sorriso conforta, mas não alimenta. O aperto de mão sela compromissos, mas, por si só, não constrói pontes nem escolas.
A verdadeira política, aquela com “P” maiúsculo, que justifica a existência do Estado, acontece muito além dos holofotes e da festa da campanha. Ela opera no silêncio do trabalho sério e na coragem das decisões difíceis.
A definição mais nobre de política não está na capacidade de agradar a todos, mas na competência de mudar realidades. Como bem se observa, a boa política é aquela que realiza três transmutações fundamentais na vida do cidadão:
Primeiro, ela transforma desespero em conforto. Isso acontece quando a mãe chega ao posto de saúde e encontra o remédio para o filho; quando a ambulância chega a tempo; quando a família, antes assombrada pela chuva em áreas de risco, recebe a chave de uma casa segura. O conforto não é luxo, é a paz de espírito de saber que não se está sozinho.
Segundo, ela transforma tristeza em alegria. Uma praça iluminada onde as crianças brincam, uma escola que inspira o aluno a sonhar, um projeto cultural que resgata a autoestima de uma comunidade. A alegria política é a recuperação da dignidade de viver em sua própria cidade.
E, finalmente, a missão mais árdua: transformar necessidade em abundância. A melhor política social que existe é o desenvolvimento. É criar um ambiente onde o agricultor colha mais, onde o empresário invista sem medo e onde o emprego bata à porta do trabalhador. Abundância é liberdade.
O político de palco vive do aplauso momentâneo. O estadista, o verdadeiro gestor, vive do legado. Ele sabe que o carisma pode vencer uma eleição, mas apenas a competência vence a fome, a doença e o atraso.
Que saibamos, portanto, valorizar o abraço, mas cobrar a ação. Pois, ao fim do dia, o que fica na história não é quem mais sorriu, mas quem, de fato, transformou a vida das pessoas.

