Vivemos em tempos de aparência, em que sorrir é quase uma obrigação social, mesmo quando a alma está em ruínas. Finge-se paz para não causar incômodo. Posta-se alegria enquanto o coração atravessa desertos. E nessa encenação cotidiana, uma verdade teima em ser ignorada: a felicidade não vive onde a frustração se esconde.
A sociedade aprendeu a disfarçar o incômodo com frases prontas, a esconder os abismos com selfies sorridentes. Criamos um pacto silencioso onde ninguém pode dizer que está cansado, frustrado, ferido. Mas debaixo desse verniz, o que realmente existe é negação, e negação nunca foi solo fértil para coisa alguma.
Frustrações não resolvidas são como goteiras no teto: no começo, parecem inofensivas, mas com o tempo, apodrecem toda a estrutura. Quem empurra a dor para os cantos da casa emocional não está se livrando dela, está apenas adiando o colapso. E felicidade, por mais gentil que seja, não compartilha o mesmo espaço com mágoas engavetadas.
Ser feliz exige, antes de tudo, verdade. E nem sempre a verdade é bonita ou fácil. Às vezes, é admitir que algo fracassou, que um sonho ficou pelo caminho, que o amor doeu mais do que curou. Mas é só encarando o que nos fere que conseguimos curar de fato.
Felicidade não se improvisa, não se simula, não se forja com sorrisos falsos. Ela precisa de ar, de honestidade, de espaço limpo. Onde há fingimento, ela não se instala. Onde há frustração camuflada, ela empacota e vai embora, sem fazer alarde.
Talvez, o primeiro passo para encontrar a felicidade não seja buscá-la, mas tirar do caminho tudo aquilo que foi escondido de si mesmo. Porque enquanto insistirmos em varrer dores para debaixo do tapete, a vida seguirá limpa apenas na superfície e insuportável por dentro.