A internet não pode ser palco da barbárie

Editorial
Guaíra, 17 de setembro de 2025 - 08h47

Orson Welles (1915–1985), cineasta, roteirista e um dos grandes gênios do século XX, já alertava em meados da década de 1960: “chegará o dia em que os imbecis terão direito a falar e serão levados a sério.” O que parecia uma provocação intelectual virou realidade. A internet transformou essa previsão em palco: basta um clique para a ignorância ganhar seguidores e a grosseria ser confundida com autenticidade.

Eis a prova: o recente episódio em que um “humorista” celebrou a morte de um americano. Não é humor, é barbárie. É o retrato cruel de uma rede que, em vez de aproximar pessoas e expandir horizontes, tem servido para levantar muros e cavar abismos.

A internet, que nasceu como promessa de conhecimento e empatia, tornou-se arena da espetacularização da tragédia. Rir da morte é normalizar o inaceitável. Aplaudir esse tipo de “piada” é assinar embaixo da insensibilidade que corrói laços sociais.

Não é somente um deslize individual, é um sintoma coletivo. Estamos transformando a tecnologia em arma contra nós mesmos. Aplaudimos a ignorância, idolatramos a grosseria, confundimos violência com autenticidade.

A internet não é culpada. Ela é espelho. O problema somos nós, que escolhemos usá-la para dividir em vez de somar. E, se não mudarmos essa lógica, seguiremos alimentando um mundo onde a vida alheia vale menos que um clique e a dor vira espetáculo.

É hora de reagir. É hora de cobrar mais responsabilidade — de quem cria, de quem consome e de quem lucra com esse tipo de conteúdo. A rede pode ser ponte. Mas, se continuarmos assim, será apenas o abismo em que estamos caindo juntos.

No fim, a escolha continua individual. Como no clássico Matrix (1999), a “pílula azul ou vermelha” simboliza decidir entre permanecer na ignorância confortável ou encarar a dura e libertadora verdade. Cada leitor, diante do próprio clique, decide se fecha os olhos para o que acontece ou encara o abismo que ajudamos a cavar.

E lembre-se: no consumo digital, todo cuidado é pouco. Dependendo da pílula que você engole todos os dias, não haverá peninha quando o futuro chegar.


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