Em meio ao apertado e complexo sistema tributário brasileiro, a cada ano, milhões de cidadãos enfrentam a ainda mais desafiadora tarefa de encarar a “mordida do leão”. Este termo, amplamente utilizado no país, se refere ao expressivo percentual de impostos que precisamos contribuir para sustentar as engrenagens do enorme — e frequentemente criticado — aparato estatal.
O Brasil é conhecido por possuir uma das cargas tributárias mais altas do mundo, algo que seria esperado de um país que devolvesse à sua população serviços públicos de qualidade ímpar. No entanto, o retorno social percebido frequentemente não condiz com a arrecadação expressiva. A estrutura fiscal tupiniquim, em vez de servir como um motor de desenvolvimento e bem-estar, comumente se aparenta com a era das monarquias opulentas, que sustentavam suas regalias através de pesados tributos dos seus súditos.
O Estado brasileiro, com seus muitos departamentos, entidades, e trâmites, se assemelha a cortes antigas — cheias de duques modernos, em trajes atualizados, mas ainda assim celebrando os mesmos banais zilhões de gastos e privilégios. Essas “cortes” não são fisicamente as majestosas cadeias palacianas de outrora, mas compartilham a imagem de ineficiência, onde a opulência parece ultrapassar o senso de serviço e modéstia pública.
O centro do problema reside não somente no peso dos impostos, mas na distribuição e utilização dos mesmos. Enquanto em teorias comparativas outros países possuem fardos fiscais semelhantes, a questão crucial reside na eficiência com que esses recursos são utilizados. Países como os nórdicos, frequentemente elevados ao exemplo ideal, conseguem oferecer revitalizantes serviços públicos que refletem diretamente no bem-estar social de sua população. Diferentemente, a “máquina pública” brasileira muitas vezes desperta o descontentamento ao exibir sinais de inchaços administrativos e gastos controversos que constantemente assombram as manchetes jornalísticas.
É preciso refletir: por que, dentre as maiores economias, antifrágil por natureza, o Brasil ainda falha em cumprir sua promessa de uma verdadeira justiça tributária? Talvez a resposta esteja enquadrada na necessidade de reformas que não apenas ajustem impostos, mas que revisem e revitalizem a estrutura funcional do Estado.
Desejamos humanamente acreditar que os tributos dedicados são gestos patrióticos, essencialmente garantidores de uma sociedade mais igualitária e justa. No entanto, a persistência de uma confortável burocracia sobre os ombros de um trabalhador ainda lutando para equiparar sonhos e renda, sugere uma por vezes dissonante realidade.
A sociedade hoje, mais do que nunca, busca não apenas explicações, mas soluções tangíveis que estabeleçam um novo paradigma: uma interface estatal/privada onde “a mordida do leão” sirva para todos como testemunho histórico de um progresso contínuo e bestial. Surpreender-nos-íamos se, algum dia, o Brasil evoluísse ao ponto de instigar a inveja de regiões habituadas à harmonia econômico-social e, principalmente, à íntegra produtividade de suas próprias “cortes.”
Reavaliar a nova roupagem destas estruturas talvez seja o primeiro passo em direção ao renascimento fiscal que tantos brasileiros anseiam ver.