Em uma democracia, a relação entre a sociedade e o serviço público é essencial para o funcionamento adequado do Estado e o bem-estar dos cidadãos. No entanto, essa relação muitas vezes se torna complexa e ambígua, com debates constantes sobre quem deve ser considerado cliente ou patrão nesse contexto. Neste editorial, vamos refletir sobre essa dinâmica e destacar a importância de uma abordagem equilibrada para fortalecer a parceria entre ambas as partes.
Alguns argumentam que a sociedade é a cliente do serviço público, uma vez que paga impostos e contribui para o financiamento dos órgãos estatais. Sob essa perspectiva, espera-se que os serviços públicos sejam prestados de forma eficiente, transparente e satisfatória, atendendo às necessidades dos cidadãos. A sociedade, então, seria a parte interessada e exigiria o mesmo nível de qualidade que receberia em uma transação comercial.
Por outro lado, há quem defenda que a sociedade é a “patroa” do serviço público, uma vez que os servidores públicos são pagos com recursos provenientes dos impostos dos cidadãos. Nessa visão, a sociedade teria o direito de exigir um desempenho adequado dos funcionários públicos, bem como a fiscalização e o controle efetivo das atividades do setor público.
No entanto, essa dicotomia entre cliente e patrão pode ser simplista e limitadora. A relação entre a sociedade e o serviço público é muito mais complexa e multifacetada. O serviço público não deve ser tratado apenas como uma transação comercial, nem seus funcionários como simples fornecedores de serviços. A natureza do setor público transcende a simples lógica de mercado e envolve o interesse coletivo e a busca pelo bem comum.
Uma abordagem mais adequada seria considerar a sociedade como parceira do serviço público. Nessa perspectiva, a sociedade e os servidores públicos compartilham a responsabilidade de garantir que os recursos públicos sejam utilizados de forma eficiente e em benefício de todos. A colaboração e o diálogo entre ambas as partes são fundamentais para promover a transparência, a prestação de contas e a melhoria contínua dos serviços públicos.
Funcionários públicos devem ser valorizados, capacitados e incentivados a se desenvolverem continuamente, de modo a fornecer serviços de qualidade e atender às necessidades da sociedade.Por sua vez, a sociedade precisa estar engajada e participar ativamente no processo democrático, exercendo sua cidadania não apenas por meio do voto, mas também por meio do envolvimento em iniciativas locais, contribuição em consultas públicas, fornecimento de feedback construtivo e acompanhamento das ações do setor público.
A relação entre a sociedade e o serviço público não deve ser reduzida a uma simples dinâmica de cliente e patrão. É preciso estabelecer uma parceria baseada na cooperação, na confiança mútua e no reconhecimento do interesse coletivo. Somente dessa forma poderemos fortalecer o serviço público, promover a eficiência e garantir que ele atenda às necessidades e expectativas da sociedade.