Ontem terminou – pelo menos por enquanto – o governo Dilma. O que não deixa de ser irônico, pois foi um governo que nunca começou.
Dilma pagou o preço de ter conseguido a reeleição “a qualquer custo”. Criou um rombo de 160 bilhões de reais de benesses no ano eleitoral, privilegiando não apenas os projetos sociais, mas principalmente empresários doadores de sua campanha, responsáveis por abocanhar 70% desse naco.
Como resultado imediato, o Brasil perdeu o selo de responsabilidade fiscal e afugentou investidores internacionais. O dólar e a inflação dispararam, e a bolsa desabou, resultando na maior crise econômica já vivenciada na história republicana.
Mais que isso, também em nome da reeleição, usou toda sorte de mentiras e ódio social para insuflar sua militância, que desde o mensalão vinha cabisbaixa e sem muita vontade de defender o governo. Tão logo obteve seu objetivo de vencer as eleições, virou-lhe as costas, tomando medidas exatamente opostas às suas promessas de campanha.
Se antes Dilma já tinha sido abandonada pelos que sempre buscavam responsabilidade fiscal, depois do maior caso de estelionato eleitoral da história, boa parte do seu eleitorado também jogou a toalha. Dilma passou a apoiar-se nos movimentos sociais mantidos pelo governo com verba federal e nos poucos fundamentalistas que ainda se levantavam para defendê-la. Veja bem, não porque acreditavam que seu governo era satisfatório, mas por achar que quem a substituiria não era nada que se preste.
Apesar de barulhentos e muito bem organizados, não se consegue comandar um país do tamanho do Brasil com algumas poucas dezenas de militantes colocando fogo em pneus. Morria assim uma presidente sem qualquer apoio da população, ou com representação política mínima, resultando em menos de 140 deputados no universo de 513, e provavelmente 22 dos 81 senadores que votaram ontem.
Não que o governo Temer seja muita coisa. Mas pelo menos Temer já mostrou uma qualidade essencial para governar um país da complexidade do Brasil: mudar de opinião. Como foi o caso do nome sugerido para o Ministério da Justiça: tão logo se divulgou entrevistas passadas onde se condenou a Lava Jato e as delações premiadas, seu nome foi imediatamente varrido para debaixo do tapete. Com a queda de Dilma, cai-se também a era das certezas, das imposições, do monólogo. Além disso, Temer não é Dilma. E só isso por enquanto já basta.