Reza o ditado que, em terra de cego, quem tem um olho é rei. Mas sejamos sinceros: no Brasil, quem tem um olho só costuma ser chamado de caolho e, longe de ser rei, no máximo vira cabo eleitoral de algum iluminado prometendo devolver-lhe a visão. A lógica nacional é diferente. Aqui, astúcia vale mais que inteligência, esperteza atropela mérito e o realismo mágico que rege nossa política e economia faria Gabriel García Márquez corar de inveja.

O Brasil nunca foi território para amadores. E, se um dia alguém tentou ser ingênuo por aqui, já foi devidamente extinto pelo darwinismo social à brasileira, onde quem sobrevive não é o mais forte, nem o mais capacitado, mas sim o mais desembaraçado. Gente que enxerga demais logo percebe que ver com os dois olhos pode ser um fardo. Melhor piscar um e fingir que não viu, não é mesmo?

Nossa democracia, por exemplo, é um espetáculo digno do Cirque du Soleil, só que sem ensaio. Eleições são verdadeiros festivais de narrativas distorcidas, onde o eleitor, crédulo e esperançoso, joga sua ficha na roleta e torce para que a bolinha caia na casa menos desastrosa. No final, o cassino sempre ganha, e o jogador, bom, esse volta a reclamar no boteco, já preparando o fígado para a próxima rodada.

E a economia? Ah, a economia! O Brasil é o único lugar onde um ministro pode prever crescimento com inflação a dois dígitos e desemprego nas alturas, e ainda assim convencer boa parte da população de que estamos no rumo certo. O segredo? Uma boa retórica e a convicção de quem não precisa provar nada. Afinal, se o povo não entende de juros, de que adianta explicá-los?

Se o dito popular fosse adaptado ao nosso cenário, a verdade é que, em terra de cego, quem tem um olho é só mais um tentando achar o caminho sem tropeçar. Enquanto isso, os verdadeiros reis continuam a ver tudo com nitidez, de preferência por trás de óculos escuros, em algum paraíso fiscal bem distante daqui.