Muito antes do primeiro “curtir”, a mentira já corria. Sussurrava na fila do mercado, espiava pela esquina, se escondia no “me disseram que…”. Hoje, ela tem wi-fi, atravessa continentes e chega antes que a verdade consiga calçar os sapatos.
Mentir de forma explícita é arriscado. Mais eficaz é manipular a verdade. Selecionar pedaços, omitir o contexto, acentuar um detalhe aqui, um silêncio ali. E assim nascem as verdades que mentem: fatos corretos que, isolados, enganam mais do que mentiras descaradas.
Quem viu a propaganda de 1988 não esquece. Um pequeno ponto preto aparecia na tela da TV e, em segundos, centenas de outros pontos formavam um retrato em branco e preto. Era Hitler, o ditador nazista, e a voz que contava suas proezas parecia sedutora, mas que ao final terminava com a famosa frase “É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.”
Neste cenário, cada pequeno cidadão precisa aprender a ser detetive. É nisso que iniciativas como o “Pequenos Caçadores de Fake News”, da Prefeitura de Guaíra, fazem diferença. Ensinar uma criança a verificar fontes, a separar fato de fofoca, é dar-lhe uma lanterna no apagão informacional em que vivemos. Cada aluno atento se torna um antivírus humano, uma barreira contra o caos das notícias soltas pelo mundo.
As fake news são rápidas, criativas, persistentes. A verdade, por outro lado, caminha devagar, mas quando cria raízes, nada a apaga. E nesse jogo de velocidade e paciência, a responsabilidade é de todos: do jornal que divulga, do leitor que absorve, de quem compartilha sem pensar.
No mundo das verdades que mentem, a atenção é arma e escudo. Não basta receber informação: é preciso sentir, questionar, desconfiar do que parece incontestável. Porque a pior mentira continua sendo aquela contada com as palavras mais verdadeiras. E a melhor verdade é aquela que conseguimos enxergar com nossos próprios olhos, atentos, críticos e livres.
Aprender a desconfiar não é ceticismo, é defesa. Cada ponto preto que se revela, cada gesto aparentemente simples, carrega consigo uma promessa: de que é possível pensar antes de agir, perceber antes de julgar. E talvez seja nessa mistura de memória, reflexão e cuidado que resida a verdadeira força da informação, e a esperança de que ainda podemos enxergar além do que nos é dado de maneira superficial.