Nesta quinta-feira, o Brasil celebra Corpus Christi. Tapetes coloridos cobrem ruas, fiéis caminham em procissões, e o corpo de Cristo ganha destaque nas liturgias. A data carrega uma tradição rica e profunda. Mas, para muitos, virou somente mais um feriado prolongado, um respiro da rotina, não da alma.
Enquanto a fé pede silêncio, recolhimento e comunhão, a sociedade responde com pressa, consumo e distração. Em vez de refletir sobre o significado da Eucaristia, presença viva do divino entre nós, grande parte da população usa o dia para fugir: das cidades, dos compromissos, de si mesma.
Vivemos em um tempo que banaliza o sagrado. Troca-se espiritualidade por curtidas, empatia por opiniões rasas, presença por performance. Em nome de uma liberdade sem propósito, muita gente ignora o essencial: Corpus Christi não celebra apenas um símbolo religioso — ele escancara nossa distância da compaixão, da partilha, da responsabilidade coletiva.
A sociedade corre, consome e esquece. Ignora os sinais de um mundo exausto, desigual e sedento por humanidade. Enquanto isso, o “corpo de Cristo”, que representa não só o divino, mas também os sofredores, os invisíveis, os que carregam cruzes diárias, segue ignorado nas calçadas, nos abrigos, nas filas dos hospitais.
Que esse feriado não passe em branco. Que ele provoque. Que nos tire do piloto automático. Que nos lembre de que caminhar sobre tapetes de fé exige mais do que presença física: exige atitude, consciência, escuta.
Mais do que uma tradição, Corpus Christi pode ser uma oportunidade: de olhar para dentro, de ouvir o outro, de redesenhar nossos caminhos. Porque só assim o sagrado deixa de ser encenação e volta a ser transformação.