Democracia ou Monarquia com Wi-Fi?

Editorial
Guaíra, 20 de junho de 2025 - 08h32

Dizem que vivemos numa democracia. Temos eleições, partidos, horário político, debates (alguns mais animados que briga de condomínio) e claro, aquele momento mágico em que o eleitor digita seu voto acreditando que está mudando o país, quando, na verdade, está apenas reconduzindo o primo do ex-prefeito, filho do deputado, afilhado do senador, à mesma cadeira de sempre.

Convenhamos: se democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, talvez a gente tenha entendido errado. Por aqui, parece mais o governo de uns poucos, pelos mesmos de sempre e, com sorte, para manter o povo calmo até a próxima eleição. Em vez de “vossa majestade, o rei”, temos “vossa excelência, o parlamentar vitalício”. A diferença é que agora usam gravata no lugar da coroa, embora o brilho do ego ainda seja ofuscante.

O Brasil é expert em criar dinastias políticas. Tem sobrenome que já devia ganhar cadeira cativa em Brasília, junto com crachá vitalício e espaço fixo nos telejornais. A cada eleição, a dúvida não é quem vai governar, mas qual herdeiro do trono será coroado dessa vez. Enquanto isso, o eleitor segue na plateia, assistindo ao espetáculo com pipoca e pagando caro por ela,.

Claro, temos o direito ao voto. É democrático, dizem. Mas o sistema é tão fechado, tão burocrático, tão dominado por acordos de bastidores e financiamentos duvidosos, que a escolha real parece ser entre diferentes versões do mesmo menu requentado. Tipo restaurante por quilo: muda o nome do prato, mas o gosto é sempre o mesmo e a conta, quem paga, adivinha?

Temos Judiciário que interpreta a Constituição como quem lê horóscopo (vale tudo, depende do signo), Legislativo que legisla mais para os próprios privilégios do que para o povo, e Executivo que, de tempos em tempos, age como se tivesse superpoderes… de rei. Mas calma, é tudo dentro da “normalidade democrática”. Só que com tapete vermelho e segurança reforçada.

E aí vem a pergunta incômoda: será que trocamos a monarquia portuguesa por uma monarquia tropical, com filtro de Instagram e discurso pronto? Será que vivemos em uma república de cidadãos ou num império de influentes? Afinal, se democracia fosse só votar, até reality show seria regime político.

No fim, pode até ser democracia no papel. Mas, na prática, parece uma monarquia disfarçada, só que com Wi-Fi, marketing e voto obrigatório. O povo até participa, desde que não reclame muito, nem atrapalhe os planos da nobreza moderna.

A boa notícia? A história mostra que toda monarquia disfarçada um dia perde a maquiagem. Resta saber quem vai segurar o espelho.

 


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