Primeiro de maio. Data marcada para homenagens, discursos bonitos, palanques montados, lives institucionalizadas. É o Dia do Trabalhador. Mas pergunte ao trabalhador se há algo a comemorar.
É para você que acorda ainda no escuro e sai de casa sem saber se volta com dignidade. Para você que enfrenta obra, ônibus lotado, expediente pesado, metas inatingíveis e salário curto. Para você que trabalha metade do ano só para pagar impostos. Impostos que não retornam. Porque quando precisa de escola, hospital ou segurança, só encontra o abandono.
Enquanto isso, os donos do poder vivem outra realidade. A da lagosta nos jantares do Supremo, do vinho de cinco mil reais na taça do ministro, da suíte luxuosa bancada por você, contribuinte invisível. Você que talvez nunca tenha saído do Brasil, mas já pagou a viagem de muitos — com champanhe e diárias internacionais.
Você tenta ser correto. Trabalha, cumpre prazos, respeita regras. E mesmo assim, mês após mês, se pergunta: onde foi parar o meu dinheiro? A resposta é amarga. Foi parar em gabinetes climatizados, em benefícios vitalícios, em salários obscenos, em privilégios que nada têm a ver com o seu suor.
Você é o alicerce de um sistema que se alimenta do seu esforço. Um sistema que protege quem não trabalha, que premia o erro, que transfere a conta de todos para quem tenta fazer o certo.E enquanto você escolhe entre carne e arroz no mercado, eles escolhem entre trufas e salmão.
A pior parte? É que você, trabalhador honesto, começou a achar isso normal. Como se fosse mesmo seu dever bancar o país inteiro. Como se fosse justo pagar a viagem do político, a verba do sindicato, o auxílio do preso que matou, roubou, estuprou e ainda vive melhor que você.
Hoje, eles dizem que é o seu dia. Mas a festa, como sempre, não é sua. Porque no Brasil de hoje, honestidade virou sinônimo de burrice. E trabalhar, castigo de quem não teve a chance de viver do sistema.
Feliz Dia do Trabalhador. A você que não vive — sustenta.