Vivemos um tempo em que a divisão deixou de ser apenas política e passou a ser íntima. O que antes se limitava ao debate público hoje atravessa a porta de casa, separa mesas de domingo, rompe amizades antigas e cria silêncios dolorosos entre irmãos, pais e filhos. A polarização não está apenas dividindo o Brasil; está fragmentando famílias inteiras.
Essa lógica de “nós contra eles” não nasceu espontaneamente. Ela é alimentada, estimulada e, muitas vezes, imposta por discursos que precisam do conflito para sobreviver. Quanto mais raiva, mais engajamento. Quanto mais medo, mais controle. O problema é que, nesse jogo, o país real sangra. Pessoas comuns passam a se enxergar como inimigas apenas por pensarem diferente.
Discordar sempre fez parte da democracia. O que não é natural é transformar divergência em ruptura afetiva, opinião em caráter e voto em identidade absoluta. Nenhuma ideologia vale o preço de um abraço que deixou de acontecer, de uma ligação que não foi feita, de uma família que se reúne, mas já não conversa.
É preciso coragem para estourar as bolhas e humanidade para reconstruir pontes. Pacificar o país começa com um gesto simples e poderoso: lembrar que, antes de eleitores, somos irmãos, amigos, vizinhos. Antes de rótulos, somos pessoas. E, acima de tudo, somos brasileiros que desejam exatamente a mesma coisa — um futuro melhor, mais justo e mais seguro para quem amamos.
Enquanto aceitarmos uma divisão que não nos pertence, continuaremos perdendo o que temos de mais valioso: a capacidade de caminhar juntos. O Brasil não precisa de mais muros. Precisa de diálogo, empatia e da compreensão de que nenhuma disputa política pode valer mais do que a nossa própria convivência.

