Vivemos em um país que se orgulha de ser conhecido pela sua hospitalidade, honestidade e trabalho árduo. O “jeitinho brasileiro”, a simpatia contagiante, e o espírito de luta são características que pintam a imagem de uma nação repleta de boas intenções. Mas, e se essas ideias, em vez de refletirem nossa realidade, estiverem nos impedindo de encarar nossos problemas de frente?

A verdade é que, assim como em um diagnóstico médico, para tratar corretamente um problema, é preciso primeiro entendê-lo. Mitos confortáveis não produzem resultados. É fácil repetir que somos um povo batalhador e honesto, mas os números contam outra história. Estamos em um país onde mais de 46 mil assassinatos ocorrem anualmente. Onde 65 mil casos de violência sexual são registrados todos os anos. Onde mais de um milhão de celulares são roubados ou furtados a cada ano. Onde mais de 17 mil caminhões são alvos de roubo de carga anualmente. Onde um em cada cinco jovens, entre 15 e 29 anos, não estuda nem trabalha. Onde um terço da população economicamente ativa é funcionalmente analfabeta.

Esses números não representam um país de pessoas apenas esforçadas e honestas. Representam um país que está falhando em criar oportunidades e segurança para seus cidadãos. Um país que precisa desesperadamente de uma mudança de narrativa, não para destruir a esperança, mas para construir uma verdade que permita soluções reais.

Essa transformação começa por uma autoanálise honesta. Muitos de nós estamos ocupados criticando o sistema, apontando o dedo para os políticos, para os vizinhos, para os outros, enquanto não conseguem olhar para si. Estamos lendo? Estamos buscando conhecimento? Estamos cuidando de nossa saúde física e mental? Estamos criando e empreendendo? Estamos cultivando a inteligência, a ambição, a prosperidade? Estamos vivendo com propósito?

É confortável acreditar que somos vítimas das circunstâncias. Mas o verdadeiro poder de mudança reside em nossa capacidade de assumir responsabilidade pessoal. Somos uma sociedade que se acomodou em desculpas, mas podemos ser uma sociedade que se move com propósito e determinação.

Deixe este editorial ser um chamado à ação. A desconstrução de mitos não é um ataque ao nosso caráter nacional, mas uma oportunidade para reconhecer nossas falhas e crescer. Para plantar sementes de mudança dentro de nós mesmos que possam florescer em uma sociedade mais justa, próspera e digna. Não se trata apenas de ser “esforçado” ou “honesto”, mas de ser intencional e transformador.

Aceitar a verdade é o primeiro passo. Transformar essa verdade em ação é o próximo. Se quisermos um futuro melhor, precisamos começar hoje, não apenas com palavras, mas com ações que reflitam o país que desejamos ser. Porque grandes mudanças começam dentro de cada um de nós, e somente através dessa transformação pessoal poderemos construir um Brasil verdadeiramente digno de orgulho. A mudança começa agora, e começa com você.