A aprovação do seguimento do processo de impeachment de Dilma pelo congresso, no último domingo, foi um dia histórico, isso ninguém duvida.
De um lado temos a felicidade de comprovar o amadurecimento da democracia brasileira, com suas instituições mais solidificadas e mais independentes, ao referenciar um processo como esse de forma isenta. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, mesmo tendo sua maioria esmagadora de juízes indicados pelo governo do PT, seguiu a constituição à risca e referendou o processo inteiro. Como era de se prever em uma democracia madura.
Por outro lado fica a preocupação da segunda destituição de um presidente eleito pelo voto direito em 24 anos. Um sinal óbvio de que o sistema político no Brasil não funciona.
Ficou fácil entender por que nas últimas décadas todas as leis mais importantes criadas ou reformadas para o país foram de responsabilidade do STF, e não do congresso.
Houve confete, houve quem chamou o filho para gritar o voto – o que Eduardo Cunha imediatamente proibiu – houve Axl Rose, houve piadinhas sem graça e houve mimimi. Normal. Democracia é uma coisa danada mesmo.
Chocou no entanto, duas situações particulares. Bolsonaro subiu ao palanque e dedicou seu voto a Carlos Ustra, diretor do Doi-Codi, responsável pela tortura e morte de centenas de opositores do regime militar. A afronta de Bolsonaro era clara: Ustra foi o torturador de Dilma, durante o período que permaneceu presa. Impossível pensar em um discurso mais baixo que esse.
Curiosamente, o pecado que levou a derrocada de Dilma provavelmente será o mesmo de Bolsonaro: a prepotência. Poucos foram o que tiveram coragem de defender algo tão vil.
Por fim, sobrou Jean Willys, o cuspidor. Conseguiu tirar todo o foco de Bolsonaro, ao se portar mais como uma criança birrenta e mimada. Só que não estava em um parquinho da esquina de casa, e sim no congresso nacional. Quando ele cuspiu em Bolsonaro, ele não perdeu apenas a razão, mas perdeu toda sua representatividade legislativa. Como uma pessoa eleita com o propósito de combater o ódio estimula ainda mais o ódio?
Jean Willys e Bolsonaro podem se considerar pessoas bem diferentes, mas não passam de faces inversas de uma mesma moeda, que não possui qualquer valor. Os dois não possuem o menor preparo para suas posições legislativas, não pelas ideias que defendem, mas pela forma que o fazem. Precisam urgentemente de um banho de democracia.
Em terra de Bolsonaros e Jean Willys, quem tem um mínimo de coerência é rei.