Imagine que você pensa em montar um pequeno negócio. Você faz todo o planejamento e orça em 100 mil reais o gasto que vai ter comprando o estoque, os materiais de produção e outros gastos. E que vai conseguir ter um lucro médio que permita reaver esses 100 mil reais em dois anos.
O problema é que você não tem esse dinheiro. Você então tenta ver se consegue arrumar um lugar que só cobre aluguel depois de dois anos, e funcionários que aceitem trabalhar de graça por dois anos, até que você cubra os custos e comece a ter lucro de fato para pagar esses gastos. Obviamente não consegue.
Então você vai no banco e consegue o empréstimo. Com o que ganha no mês paga o aluguel, o salário dos empregados, e a parcela do empréstimo. Ao final de dois anos, você quita o empréstimo, e começa a ter lucro real para o resto da vida. Bom para você, bom para seu funcionário que conseguiu um bom emprego, bom para o dono do imóvel que vai receber o aluguel, e bom para a população que passou a ter mais um serviço de qualidade na cidade.
É por isso que o advento do capitalismo conseguiu diminuir a miséria de 98% da população para menos de 10% como é atualmente. E fez com que a população do planeta que demorou 200 mil anos para atingir seu primeiro bilhão de habitantes explodir para 8 bilhões em menos de 200 anos. A questão é que o banco empresta um dinheiro que não existe. Na verdade, um dinheiro que existe apenas na teoria. Esses mesmos 100 mil reais ele empresta para vários empresários dispostos a empreender e criar seus próprios negócios.
Se um banco emprestar para muitas pessoas e várias deixarem de honrar seus empréstimos, ele pode vir a quebrar. E isso aconteceu já algumas vezes, fazendo com que os governos aprendessem que tinha que dar um limite ao número de empréstimos bancários. Por isso, todo banco que fizer qualquer empréstimo, tem que depositar um percentual desse valor no Banco Central, como seguro.
Demorou-se quase 100 anos para achar qual é o valor ideal desse seguro para beneficiar o máximo de pessoas, sem que ponha em risco o sistema financeiro. Um dos fatores que ajuda nesse controle é o nível de inadimplência de um país. Vamos dar um exemplo, para ficar mais fácil de entender: imagine que o banco emprestou para 10 empresários 100 mil reais, ganhando 10% ao ano. No final de dois anos, recebeu 120 mil reais. O banco então terá um lucro de 10 x 20 mil reais, ou seja, 200 mil reais. Só que, se desses 10 empresários, dois não pagarem os empréstimos. Ou seja, o banco deixou de receber 240 mil reais. Em resumo, bastou dois dos 10 empresários não pagarem suas dívidas, que o banco passa a ter prejuízo. Então ele tem duas saídas: ou deixa de fazer empréstimos, ou ele passa a ter que aumentar os juros para compensar um eventual calote.
Os outros 8 empresários, que tiveram responsabilidade com os custos e fizeram tudo certinho, serão então os mais afetados. Por que, seja a decisão do banco, eles se lascam. Ou não podem mais pegar empréstimos, ou então terão que pagar 30% de juros ao invés de 20%, por causa dos que não tiveram responsabilidade fiscal e calotaram os pagamentos dos empréstimos. Oito que irão se prejudicar por causa da irresponsabilidade de apenas dois.
É justo?
É por isso que vários países do mundo tem uma lista de bons pagadores, onde as pessoas vão ganhando pontos todas as vezes que honram seus compromissos financeiros. Pagou a conta de luz em dia durante um ano, ponto pra você. Honrou todo o financiamento do carro zero, mais um ponto.
O governo, sabendo que aquele grupo de pessoas tende a honrar seus compromissos, permite que os bancos não precisem fazer depósitos de lastros tão grandes no Banco Central para dar estabilidade ao sistema financeiro. Com isso, o banco consegue emprestar para um úmero maior de pessoas, com juros bem menores que os usuais. Bom para todo mundo. Exceto, óbvio, para os maus pagadores, que, por terem um risco maior de não cumprir seus compromissos, só poderão contrair dívidas com juros maiores.
Pois bem, ontem a câmara votou e aprovou o texto base da lei que cria a lista dos bons pagadores. Sabe quem votou contra a proposta, dizendo que é uma discriminação contra os maus pagadores? Sim, sempre eles: a esquerda brasileira, liderada pelo PSOL, que ainda precisa e muito aprender o que é responsabilidade fiscal. Ivan Valente, líder do PSOL na Câmara, chegou a berrar no microfone: “Vocês querem humilhar os maus pagadores”. A esquerda no Brasil, no que tange a economia e entendimento do seu funcionamento, precisa urgentemente passar pelo seu iluminismo. Porque está cada vez mais evidente que seu conhecimento nesse assunto ainda está na Idade Média.
E apenas para complementar, sabe quem da direita votou contra o projeto da lista de bons pagadores? Sim, ele mesmo. O “Mito”. Realmente tem que ser muito inocente achar que Jair Bolsonaro é liberal na área econômica. Bolsonaro e o PSOL são apenas lados opostos da mesma moeda.