Vivemos em uma era de superexposição. Redes sociais, grupos de mensagens, vídeos e desabafos públicos transformaram o ato de compartilhar em uma rotina quase automática. Porém, entre tantas falas, surge uma frase que carrega um alerta profundo: “Não fale seus problemas para quem não tem o remédio.” Esta sentença, por vezes interpretada como frieza ou indiferença, traz na verdade, uma sabedoria prática e emocional.

Desabafar é humano. Compartilhar dores, dúvidas e dificuldades pode aliviar a alma e abrir caminhos para soluções. Mas quando isso é feito com quem não está preparado, emocional, psicológica ou tecnicamente, para ajudar, o efeito pode ser o oposto. Em vez de cura, mais angústia. Em vez de apoio, julgamento. Em vez de empatia, indiferença.

A frase nos convida a uma reflexão sobre com quem dividimos nossas vulnerabilidades. Nem todos têm a maturidade ou a disposição para ouvir com compaixão. Alguns ouvem por curiosidade, outros para criticar, e muitos simplesmente não sabem o que fazer com a dor do outro. E isso não é uma falha de caráter, é apenas um limite humano.

Por outro lado, esse provérbio moderno também traz uma responsabilidade: a de buscar o remédio certo. Profissionais de saúde mental, amigos verdadeiramente presentes, pessoas com escuta ativa e sem julgamentos, são esses os lugares seguros onde os problemas podem, e devem, ser colocados. Falar é importante, mas ser bem ouvido é essencial.

Há ainda um aspecto ético implícito: respeitar o espaço do outro. Nem sempre quem está ao nosso lado está em condições de carregar mais peso. O silêncio, às vezes, é mais sábio que a partilha impulsiva.

Em um mundo que estimula tanto o falar, talvez o verdadeiro desafio seja aprender com quem, quando e como falar. E, acima de tudo, reconhecer que dividir um problema não é apenas um ato de expressão, mas também um pedido de cuidado. Que saibamos escolher bem nossos confidentes e, quando possível, ser esse “remédio” na vida de alguém.