Tem gente que não consegue passar um dia sem apontar o dedo pra alguém. Deve coçar. Acorda de manhã, toma um café, solta uma crítica. Faz parte do ritual. Uns rezam, outros julgam.
E não julgam de qualquer jeito. São sutis. Elegantes. Críticos refinados da vida alheia. Chegam com aquela fala mansa: “não é fofoca, é só uma observação”. Claro, e o GPS do inferno é só um guia turístico.
Esses especialistas em vida alheia vivem com um sorriso no rosto e uma lista de defeitos dos outros no bolso. São os sommeliers do erro alheio. Degustam falhas com um prazer quase poético. Às vezes, a gente nem sabe se tá conversando com um amigo ou com a versão ambulante da sessão de comentários do Facebook.
Mas o melhor (ou pior) é quando se juntam. Aí vira reunião de condomínio da maldade. Um solta a primeira crítica, outro completa, o terceiro já puxa um print. É um festival de julgamento sem juiz, mas com muita sentença.
E se você tá achando graça porque hoje não é com você, um conselho: ri baixinho. Porque esse povo não tem alvo fixo, tem rodízio. Hoje é o vizinho, amanhã é você. E vão te servir frio, igual vingança. Ou pior: requentado, igual fofoca velha que ressuscita no café da tarde.
O mais curioso é que quem mais aponta o dedo costuma ter o armário cheio de esqueletos dançando can-can. Mas seguem firmes, apontando como se fossem a voz da razão. Mal sabem que o mundo dá voltas e às vezes, o dedo que aponta vira o dedo que aperta o botão do cancelamento.
Então, fica a dica. Quando vir alguém sempre reparando demais na vida dos outros, trate com carinho. Dê um sorriso. E vá se afastando devagar. Igual a gente faz com cachorro bravo: não corre, mas também não vira as costas.
Afinal, gente que vive apontando o dedo raramente tem as mãos limpas.