Sinceramente? Falar de políticos corruptos é fácil. É o esporte nacional, o almoço de domingo. Apontamos o dedo para o Congresso, para os desvios bilionários, para os esquemas que tiram até o último centavo do aposentado e do pensionista. Uma vergonha que, aliás, fatura cifras que nos fazem questionar se o Brasil é uma nação ou um grande caixa eletrônico para a esperteza alheia.

Mas vamos ser justos. De onde você acha que vêm esses políticos? Eles não caem de Marte. Eles saem do nosso meio. E é aqui que a conversa fica desconfortável. Se a sociedade está cheia de “frutos estragados”, o que esperamos colher no jardim da política?

O que acontece é uma epidemia silenciosa de dupla moral que começa no nível mais baixo: o funcionário que se gaba de roubar material do patrão ou de “dar um perdido” no ponto; o motorista que se sente um gênio ao furar a fila ou estacionar na vaga de idoso só por “cinco minutinhos”; o cidadão que se orgulha de ser “malandro”, de levar vantagem, de não pagar o que deve. Ele não é um criminoso de colarinho branco, mas é o alicerce da mesma mentalidade. Essa “malandragem” de baixo custo é a mesma energia, o mesmo princípio ético que, amplificado por um cargo de poder, se torna o desvio bilionário. É a mesma pessoa, apenas com um talão de cheques maior.

Onde reverter isso? A resposta é amarga: a reversão tem que ser no espelho. Você critica o político por desviar milhões, mas você trapaceia o sistema em troco de troco. Você exige honestidade na urna, mas se orgulha de ter o “jeitinho” para não seguir a regra. Você quer um país justo, mas acha que é esperto demais para a fila.

Estamos condenados a ter a política que merecemos enquanto a esperteza for mais celebrada que a ética, e a malandragem mais admirada que a integridade.

Portanto, quando a próxima notícia de corrupção te indignar, antes de gritar “Fora, Político!”, pergunte-se: “Onde foi que EU furei a fila hoje?” A limpeza do gabinete começa na sua consciência. O resto é só teatro.