Vivemos em tempos curiosos. Enquanto milhões suam a camisa em jornadas de trabalho extenuantes para garantir o sustento, há um setor que prospera com o mínimo esforço: o dos sites de apostas. Parece que alguém descobriu uma fórmula mágica para fazer dinheiro brotar de onde menos se espera – dos sonhos de gente comum, querendo arriscar seu pouco, na ilusão de transformar migalhas

O Brasil, país do “jeitinho”, modificou essa febre com uma paixão original. Afinal, por que se preocupa com reformas estruturais ou investimentos em educação, quando se pode, com um simples clique, perder o salário do mês apostando se a Juventus vai ganhar de 3 ou 4 a 0? Dizem que o brasileiro não desiste nunca, mas nesse caso, talvez fosse melhor pensar duas vezes antes de continuar financiando teimosamente a expansão desses impérios online.

O que impressiona não é apenas o montante descomunal gasto nesses sites, mas a naturalidade com que esse hábito se instalou. Há quem diga que o brasileiro é criativo. Agora, somos tão criativos que resolvemos transformar o “dinheiro fácil” em uma nova forma de entretenimento, ao invés de investir na nossa própria criatividade. Para quê empreender ou desenvolver soluções para o futuro, se a próxima aposta é que o Grêmio vai ganhar de virada? Quem precisa de investimentos em saúde ou educação, se o próximo jogo poderá ser o divisor de águas? A ironia dói.

O mais interessante, claro, é observar como esses sites de apostas se posicionam como grandes benfeitores da sociedade. “Estamos aqui para proporcionar diversão e emoção ao povo brasileiro!” Dizem, enquanto o que realmente procurará é um novo caminho para a bancarrota. É o típico caso do lobo em pele de cordeiro: com slogans fofinhos, gráficos coloridos e promoções generosas, vendem a ilusão de que todos podem ser o próximo milionário. Spoiler: não pode.