Alçar ao poder sempre foi um sonho humano. Estar no topo parece significar segurança, prestígio, domínio. Mas o que pouca gente percebe é que a conquista e a manutenção do poder, muitas vezes, podem vir acompanhadas de uma transformação silenciosa: a de vigiar o outro, de tornar-se sombra, de viver como um stalker.
Quem busca o poder pode, sem notar, começar a seguir rastros alheios, vigiar cada movimento, colecionar sinais que nunca lhe pertenceram. A obsessão em se manter no topo, ou em alcançá-lo, faz com que a atenção se volte mais para os passos dos outros do que para os próprios. O poder, então, deixa de ser luz e passa a ser sombra. Uma vida consumida em observar em vez de construir.
Não é raro ver pessoas que, em nome de se manter no topo, ou alcançá-lo, se tornam reféns dessa prática. Vigilância constante, paranoia disfarçada de estratégia, solidão fantasiada de controle. É o risco de acreditar que espiar a janela do outro garante, algum domínio, quando, na verdade, revela apenas insegurança.
O grande paradoxo do poder é este: quem o deseja demais, ou teme perdê-lo, corre o risco de perder a própria vida em função dele. O poder que se sustenta em vigiar é frágil, porque vive da sombra e não da essência.
O único poder que não se dissolve é o que nasce da coragem de habitar a própria vida. Cultivar o próprio jardim, abrir as próprias janelas, florescer sem se perder em passos alheios. Porque, no fim, quem se torna stalker do poder não o possui de verdade, apenas alimenta o medo de nunca tê-lo.