“O poder pelo poder”

Editorial
Guaíra, 22 de agosto de 2025 - 10h00

O poder é uma criatura curiosa. Disfarça-se de missão, de vocação, até de serviço público, mas, no fundo, tem algo de vício antigo, daqueles difíceis de largar. Basta provar uma dose para sentir o gosto da influência, e então a sede nunca mais passa. O problema não está em usá-lo como ferramenta, mas em torná-lo um troféu em si mesmo. Eis o vício do “poder pelo poder”.

“E por que falar disso agora?”, você pode perguntar. A resposta é simples: porque, enquanto você se ocupa da rotina, há sempre alguém, em algum lugar, trabalhando para conquistar ou manter poder. No escritório, no clube, na associação de bairro, nas redes sociais, o tabuleiro nunca para. Você pode não perceber, mas as peças já estão em movimento.

O poder vazio costuma ser performático. É o chefe que manda só para reforçar o crachá, o colega que precisa ter sempre a última palavra, o líder que confunde autoridade com autoritarismo. No fim, todos eles estão mais interessados em mostrar que podem do que em realmente fazer. E quando o poder vira espetáculo, o progresso vira figurante.

Mas há outro caminho. O poder que serve a um propósito coletivo não precisa gritar, nem se impor à força. Ele constrói, transforma, deixa marcas que falam por si. Enquanto o primeiro só alimenta egos, o segundo alimenta futuros.

A linha que separa ambos é sutil, quase invisível, mas decisiva. Talvez por isso a pergunta certa não seja “quem tem poder?”, e sim: “para quê esse poder existe?” E você, leitor: quando cruza com o jogo do poder, prefere ser apenas, peça, plateia ou alguém que ousa questionar o tabuleiro?


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