Há quem diga que o poder é o mais potente afrodisíaco já criado. Não encanta somente: hipnotiza. Ele dá brilho, organiza sorrisos, concede aura, afina fala, perfuma presença. De uma hora para outra, pessoas comuns tornam-se fascinantes, irresistíveis, desejadas. O poder fabrica charme em série.
E é exatamente aí que mora o perigo.
Porque, quando o poder vira maquiagem, ele se torna instrumento de vaidade e não de responsabilidade. Quando serve para se exibir, e não para servir, passa a ser vitrine e não ferramenta. Há líderes que sobem ao palco e confundem o aplauso com missão. Pensam que governar é ser admirado, não é resolver. Que liderar é colecionar fotos e não entregar resultados.
Mas o verdadeiro poder não é o que enobrece o dono é o que melhora a vida de quem não o tem.
O poder real não se sustenta na pose, no cargo, no gabinete, na faixa, no crachá. Ele se confirma nas ruas silenciosas depois da chuva, quando não há alagamento; nos postos de saúde onde se espera menos e se cura mais; na escola onde o futuro ganha lápis, merenda e esperança; na cidade onde o dinheiro público é tratado como público, não como adorno.
Poder, esse sim digno do nome, não é afrodisíaco: é compromisso.
Porque quem está no topo não deveria se perguntar como é visto, mas o que deixa. O maior erro de um governante e de qualquer gestor, empresário, dirigente, pai, mãe, cidadão é acreditar que autoridade é privilégio. Autoridade é função, peso, tarefa, dívida com o amanhã.
O cargo acaba, o sorriso das câmeras desaparece, o charme político evapora. Sobra apenas o rastro. Alguns deixarão tapetes vermelhos; outros, cicatrizes. Poucos, mas os mais sábios, deixarão pontes, oportunidades, dignidade.
O poder é sedutor, sim, mas só é grande quando deixa de servir ao ego e passa a servir ao maior número de pessoas.
No fim das contas, a história não se lembrará dos que brilharam, mas dos que transformaram.

