“PAVÃO MISTERIOSO”

Editorial
Guaíra, 1 de agosto de 2025 - 13h44

Em tempos de redes sociais e cultos à imagem, a síndrome do pavão se alastra como um vírus silencioso. Ela não está registrada nos compêndios médicos nem nos manuais de psicologia clássica, mas se manifesta com clareza: trata-se da necessidade compulsiva de se exibir, de inflar a própria imagem, de brilhar mais do que realmente se é. Como o pavão que abre a cauda para impressionar, mesmo sem saber ao certo por quê.

A síndrome do pavão não distingue classe social, profissão ou idade. Ela se aloja na alma de quem confunde autoestima com vaidade, de quem precisa ser visto, elogiado, curtido. No palco digital, esses pavões modernos desfilam conquistas, muitas vezes fabricadas, e acumulam likes como quem coleciona medalhas de um campeonato onde só eles competem.

Mas o mistério,e talvez o perigo dessa síndrome, está em sua contradição essencial: o excesso de brilho costuma esconder o vazio. Quem precisa constantemente provar valor talvez não acredite no próprio valor. Quem vive de mostrar perfeição muitas vezes teme encarar suas falhas. O “Pavão Misterioso” é, portanto, menos um ser encantado e mais um alerta: o fascínio pela aparência pode aprisionar.

Estamos todos sujeitos a esse impulso de querer ser mais vistos, mais validados. O problema é quando o personagem engole a pessoa. Quando a imagem se torna mais importante que a essência. Quando se vive para impressionar, e não para viver.

Num mundo tão ruidoso e cheio de filtros, talvez a verdadeira coragem esteja em ser discreto, sincero e imperfeito. Em fechar a cauda e simplesmente caminhar.


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