Há uma fronteira que separa a política da exploração, e muitos parecem ter esquecido onde ela fica. Em vez de buscar soluções, há quem prefira se aproveitar da comoção pública para aparecer, transformando temas delicados em oportunidades de autopromoção. Foi assim com o decreto federal que ameaça as APAEs, um assunto que deveria mobilizar responsabilidade e empatia, mas que acabou sendo tratado como combustível para discursos vazios. O mesmo acontece com as operações policiais no Rio de Janeiro, que para alguns se tornaram mais um palco de exibição do que um debate sério sobre segurança, desigualdade e direitos humanos.
É vergonhoso assistir a líderes, autoridades e até figuras públicas disputando narrativas enquanto famílias choram e instituições lutam para sobreviver. O oportunismo virou estratégia, o sensacionalismo virou ferramenta e o sofrimento alheio passou a ser moeda de troca política. Em tempos de redes sociais e de discursos instantâneos, muitos parecem mais preocupados em marcar presença do que em fazer diferença.
O país não precisa de porta-vozes que falem o que o povo quer ouvir, mas de líderes que saibam o que o povo precisa. Política não é sobre capitalizar tragédias nem sobre posar de herói diante de câmeras. É sobre assumir responsabilidades, mesmo quando elas não rendem aplausos.
Quando a dor vira discurso, perde-se o sentido da política como instrumento de transformação. E talvez esse seja o sintoma mais grave do nosso tempo: a banalização da empatia, a inversão de valores e a confusão entre protagonismo e populismo.
Debater temas sensíveis exige coragem, sensatez e compromisso com o bem comum. O que se espera de quem ocupa cargos públicos não é performance, mas postura. Que a política volte a ser o que deve ser: um espaço de serviço e não de espetáculo.

 
											
							
 
							 
							 
							 
							 
							