Quando a tolerância é zero 

Editorial
Guaíra, 23 de março de 2025 - 10h06

Ah, a pluralidade de opiniões, aquela relíquia do passado que um dia foi símbolo de uma sociedade saudável e democrática. Hoje, parece mais um daqueles conceitos vintage, que a gente menciona com nostalgia ao lado de coisas como fita cassete e telefone com fio. Olhando ao redor, é impossível não notar o curioso fenômeno social onde ousar discordar do pensamento popular é quase uma atividade de alto risco. A nova regra não escrita: concorde ou prepare-se para ser banido da ilha!

Tomemos como exemplo o corajoso conselheiro municipal, que, em sua busca por reunir fatos e avaliar o contexto, se atreve a sugerir que um estacionamento numa área verde pode não ser a melhor ideia. A multidão responde com a sutileza de um trovão: indignação, ameaças e uma chuva de “cancelamentos” digna de apocalipse digital. Esquecem que ele é apenas um dos muitos no colegiado, como a banda de abertura que leva vaias antes da entrada do show principal.

A monocultura de pensamento, adorada por muitos como a nova normalidade, faz parecer que cultivar opiniões dissidentes é coisa de museu. No fundo, sufocar essas vozes é como decidir que numa orquestra só os tamborins tocarão — até pode ser barulhento, mas nunca uma sinfonia.

E não vamos parar por aí. Essa mania de abraçar a unanimidade uníssona não está confinada aos conselhos municipais. Não, senhor! Domina desde a vizinhança virtual de mídias sociais até o jantar de domingo em família, transformando discussões potencialmente construtivas em verdadeiros campos minados emocionais. Experimente trazer à mesa um ponto de vista diferente e observe a tensão aumentar mais rápido que fermento em pão caseiro.

O que muitos parecem esquecer é que é precisamente do terreno fértil das divergências aparentemente sufocadas que brotam as soluções inovadoras para nossos desafios. Respeito e inclusão de vozes plurais vão além de meros princípios democráticos; são as ferramentas cruciais que nos permitem construir um futuro onde possamos, ironicamente, olhar para trás e rir de toda essa resistência ao contraditório.

Ao desafiar, as coisas como são (status quo) e confrontar diferentes perspectivas, abre-se espaço para reflexões mais profundas, debates mais ricos e, por conseguinte, para o desenvolvimento de abordagens inovadoras que talvez não surgissem em um ambiente de conformidade absoluta. Portanto, apesar de parecerem improdutivas ou indesejáveis à primeira vista, essas divergências têm o potencial de enriquecer o processo democrático e social.

 


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