O Decreto nº 12.686/2025, que cria a nova Política Nacional de Educação Especial Inclusiva, nasceu cheio de boas intenções. Como tantas outras medidas ao longo da história, veio com o discurso de garantir direitos, modernizar políticas e promover igualdade. Mas o caminho do inferno, já dizia o ditado, é pavimentado de boas intenções. E, neste caso, o que se anuncia como inclusão pode muito bem se transformar em exclusão disfarçada.
O erro não está em querer incluir, mas em não ouvir quem já faz isso há décadas. Famílias, professores, profissionais da saúde e instituições como as APAEs conhecem, na prática, os desafios da educação especial. São eles que, dia após dia, enfrentam limitações estruturais, carência de recursos e falta de apoio estatal, e mesmo assim conseguem oferecer acolhimento, ensino e dignidade a quem mais precisa.
O governo, porém, preferiu a caneta ao diálogo. Decretou sem escutar. Decidiu sem consultar. E assim transformou um tema profundamente humano em mais uma disputa burocrática. Chama de inclusão o que, no fundo, é padronização, e padronizar o que é diverso é o primeiro passo para excluir.
O discurso é bonito: todos na mesma escola, todos juntos. Mas a prática revela o perigo da pressa e da falta de escuta. Porque igualdade não é colocar todos no mesmo lugar, é oferecer a cada um o que ele realmente precisa para florescer. A escola que se quer para todos não pode ser a mesma para quem demanda atenção especial.
As APAEs e outras instituições especializadas não são o passado, são parte essencial do presente e do futuro da inclusão real. Desmontá-las em nome de um ideal teórico é como demolir a casa antes de construir o alicerce. E quando o governo ignora o saber de quem vive o cotidiano da inclusão, revela que está mais interessado em parecer justo do que em ser.
É curioso e um tanto trágico observar como o poder se encanta com a própria retórica. Fala em diversidade, mas age de forma autoritária. Propaga o diálogo, mas assina decretos sem consulta. Diz querer um país inclusivo, mas silencia quem o ajuda a construí-lo.
No fim das contas, o problema é velho e conhecido: um governo que fala sozinho. E quando o governo fala sozinho, o povo padece. Porque nenhuma política pública é realmente inclusiva quando começa com exclusão, a exclusão da escuta, da experiência e da sabedoria de quem mais entende do assunto.

