Quando o Silêncio Fala Mais Alto

Editorial
Guaíra, 7 de novembro de 2025 - 08h42

Vivemos em uma era de saturação sonora, onde a premissa é clara: todos têm algo a dizer e precisam fazê-lo agora. As redes sociais não apenas amplificaram a voz, mas transformaram cada opinião em um grito incessante e cada pausa em uma suspeita de omissão. Falar se tornou um atestado de existência; o silêncio, um risco de invisibilidade. O problema é que, imersos nesse ruído coletivo, a sabedoria tem sido engolida pelo impulso. Falamos antes de processar, opinamos antes de entender e julgamos antes de sequer nos dar ao trabalho de conhecer.

A frase, que soa ancestral,“é melhor ficar calado e deixar que pensem que você é tolo do que falar e acabar com a dúvida”, parece tão atual e urgente.Ela não versa sobre covardia, mas sim sobre autocontrole, um recurso cada vez mais escasso na era dos comentários instantâneos e das certezas superficiais. O silêncio, erroneamente taxado de fraqueza, é, na verdade, um gesto ativo de inteligência. Ele nos protege da pressa de quem busca validação, da armadilha da vaidade e da pretensão exaustiva de querer parecer sábio a todo momento.

Muitos confundem a quietude com indiferença, mas o verdadeiro silêncio é uma ferramenta de ação: ele observa, avalia e digere. Não se trata de fugir da conversa, e sim de escolher o momento exato e a palavra precisa para entrar nela. Em contrapartida, o falatório constante, aquele que preenche o ar com opiniões infladas e argumentos reciclados, raramente revela coragem. Na maioria das vezes, expõe mais insegurança do que convicção. É a tentativa frenética de provar um ponto que sequer foi bem formulado.

Talvez a verdadeira revolução comece com a reaprendizagem do valor da pausa. Do “não sei” dito com humildade genuína. Do “preciso pensar” enunciado com a calma de quem valoriza a profundidade. Porque nem toda pergunta exige um reflexo imediato e nem toda plateia merece o desgaste de um discurso não preparado.

Num mundo obcecado em ser o centro das atenções, onde todos disputam para ser ouvidos, a verdadeira ousadia é calar e escutar. Não se engane: o silêncio, quando utilizado com propósito, não é a ausência de voz. É a presença plena e inegável da sabedoria.


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