QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Editorial
Guaíra, 16 de fevereiro de 2024 - 17h10

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn. 2,7); “até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn. 3,19).

A quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma, ou seja, dos 40 dias nos quais a Igreja chama os fiéis a se converterem e a se prepararem verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo durante a Semana Santa. E a cinza, como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim. 

Podemos dizer que hoje, é uma ponte entre a ilusão festiva e a realidade, caracterizado pela sobriedade e reflexão. Mediante o despertar desse choque de realidade, também é o dia em que o Brasil acorda do seu belo carnaval para confrontar a rotina diária, se deparando com as tristes deficiências do nosso sistema político e social.

Nossas mazelas parecem ser um carnaval contínuo, acompanhado por um enredo previsível de problemas estruturais e sociais que afligem nosso país, e continuam sem solução.  Perpetuado pela inércia e descaso daqueles que se autodenominam representantes nacionais.

São milhares de brasileiros relegados ao papel de pierrôs, obrigados a acompanhar a evolução carnavalesca de arlequins e colombinas. Pierrôs presos em um “carnaval” que parece não ter fim. Prisioneiros em uma espécie de pantomima, onde é proibido fazer o menor uso possível de palavras, e apenas alguns movimentos através da mímica, atitudes e expressões faciais, frente às narrativas que divergem da realidade vivida pelo povo, e de promessas vazias. 

Neste contexto, a quarta-feira de cinzas não deveria ser apenas um dia para curar a ressaca física, como também a moral e política. A sociedade está cansada de ponderar sobre o papel e responsabilidades de instituições e aqueles que elegeu como representantes, que deveriam abandonar as máscaras da retórica vazia e agir com integridade e compromisso genuíno.

O futuro do Brasil está intrinsecamente ligado à sua capacidade de reconhecer a gravidade da situação e agir com determinação e honestidade para enfrentar os desafios que se apresentam. Devemos agir antes que o Brasil se torne uma mera ilusão, à espera de uma quarta-feira de cinzas que jamais chegará, que ao contrário dos contos de fadas, não culminam em finais felizes. Se, é claro, tivermos a sorte de testemunhar um desfecho.

 


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