Em tempos de turbulência política e social, é essencial revisitarmos os fundamentos do que significa ser republicano. O historiador José Murilo de Carvalho oferece uma visão clara e incisiva sobre os valores republicanos, uma visão que, infelizmente, parece cada vez mais distante da realidade brasileira.

Ser republicano, como nos lembra Carvalho, é crer na igualdade civil de todos, rejeitar hierarquias e privilégios, e não se curvar a perguntas como “Você sabe com quem está falando?”. É acreditar na lei como garantia da liberdade e repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas, paternalistas, nepotistas e corporativistas. É entender que o dinheiro público pertence a todos e que sua gestão deve ser transparente e eficiente. Em resumo, ser republicano é ser transparente e comprometido com o bem-estar coletivo.

No entanto, olhando para o cenário político brasileiro atual, vemos uma triste distância entre esses ideais e a realidade. Escândalos de corrupção, nepotismo, favorecimento e falta de transparência permeiam os corredores do poder. A noção de igualdade civil é muitas vezes eclipsada por privilégios concedidos a uma elite política e econômica, enquanto a população é deixada à margem, lutando por seus direitos básicos.

A crise dos valores republicanos no Brasil é mais do que uma questão política; é uma crise moral e ética que mina os alicerces de nossa sociedade. Enquanto os princípios de justiça, liberdade, igualdade e dignidade humana são negligenciados, a confiança no sistema político desmorona e a esperança de um futuro melhor se desvanece.

Diante desse cenário sombrio, somos compelidos a perguntar: em falta desses valores republicanos, em qual regime realmente vivemos? Se a igualdade, a justiça e a transparência não são mais do que meras palavras vazias, então qual é o verdadeiro caráter de nosso sistema político?

A resposta a essa pergunta não é apenas uma questão acadêmica ou filosófica; é uma chamada à ação. Devemos exigir dos nossos líderes e instituições um retorno aos valores republicanos que fundamentaram nossa democracia. Devemos lutar pela justiça, pela igualdade e pela transparência em todas as esferas da vida política e social.

O desafio é grande, mas não podemos nos dar ao luxo de desistir. Precisamos nos unir como cidadãos conscientes e exigir um Brasil onde os valores republicanos não sejam apenas palavras em um livro, mas sim a essência de nossa identidade coletiva. Só então poderemos verdadeiramente afirmar que vivemos em uma república digna desse nome.