“Quem descansa demais, esquece demais”

Editorial
Guaíra, 9 de julho de 2025 - 13h41

9 de Julho: A Revolução que ainda nos cobra coragem

 

Tem gente que nem sabe por que descansa no 9 de Julho. Só vê o feriado. Só enxerga a folga. Mal imagina que esse dia não foi dado, foi arrancado da história com sangue, suor e uma teimosia que hoje anda em falta.

O 9 de Julho não é qualquer data. É a lembrança de quando São Paulo resolveu parar de engolir imposições e se levantou para exigir algo simples: respeito à democracia. Parece pouco? Pois custou vidas.

Em 1932, o povo paulista decidiu que não ia aceitar um país sem regras claras, sem Constituição, sem direito à voz. Não foi rebeldia. Foi senso de justiça. Foi a consciência de que um povo que não luta vira massa de manobra.

Jovens largaram os livros e foram para a linha de frente. Famílias deram o que tinham. A cidade virou trincheira. Os nomes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, jovens, estudantes, mortos pela causa e viraram siglas. Mas antes disso, foram corpos tombados por algo maior do que eles. E hoje? O que temos feito com esse legado?

Vivemos num país onde a Constituição é ignorada quando incomoda. Onde o jeitinho atropela o direito. Onde o conformismo virou moda e o cinismo, programa de governo. Mas o espírito do 9 de Julho não combina com isso. Ele grita justamente o contrário: não aceitem!

A coragem de 1932 não cabe em homenagens protocolares. Ela exige ação. Exige brio. Exige que a gente pare de aceitar o absurdo como rotina. Que a gente diga “basta” quando a injustiça vira paisagem. Que a gente lute, nem que seja no voto, na denúncia, na coragem de não se calar.

O que São Paulo fez em 32 foi um ato de grandeza que nos envergonha se ficarmos passivos. Porque quem descansa num feriado conquistado com sangue e permanece omisso, está dormindo em cima do sacrifício alheio.

Então, sim, descanse no 9 de Julho. Mas que seja um descanso inquieto. Um feriado que cutuca. Que provoca. Que faz pensar: e eu, tenho honrado essa história? Tenho coragem de lutar pelo que é certo? Ou estou esperando que outros façam por mim aquilo que já devia ser minha responsabilidade?

Essa revolução ainda não terminou. Ela só mudou de campo de batalha. Agora, a trincheira é dentro de cada um. E o Brasil ainda precisa de gente com coragem. Gente que entenda que Constituição não é papel: é promessa. E que promessa, quando se quebra, merece resistência.

9 de Julho: que esse dia nos tire do conforto. Porque democracia sem coragem é só fantasia.


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