Regime Intermitente: A Revolução da Fome Consciente!

Editorial
Guaíra, 9 de fevereiro de 2025 - 10h29

Senhoras e senhores, um novo conceito de economia alimentar foi lançado diretamente do alto escalão da República! Sim, depois de anos debatendo dietas milagrosas e regimes inovadores, finalmente temos a solução definitiva: se a comida está cara, simplesmente pare de comprar!

A genialidade dessa estratégia econômica e nutricional beira o brilhantismo. Afinal, para que recorrer a medidas ultrapassadas como subsídios, políticas públicas eficientes ou, quem sabe, aumento do poder de compra da população? Não, não! A nova ordem é resistir estoicamente à fome, deixando que o mercado se autorregule por pura falta de freguesia.

Imaginem só o impacto disso! O brasileiro, que já domina a arte de se virar nos trinta, agora poderá elevar sua resiliência a outro nível, aderindo ao novo e revolucionário Regime Intermitente. Funciona assim: quando for ao mercado e ver o arroz a preços astronômicos, vire as costas e vá embora. Se o feijão seguir os passos do ouro, apenas admire-o de longe, como quem contempla uma joia intocável. Carne? Ora, há tempos já virou artigo de luxo, então sigamos o conselho: não compre e, de quebra, ajude a salvar o meio ambiente reduzindo o consumo de proteína animal!

Os benefícios desse plano são incontáveis! Além de contribuir para a saúde fiscal do país (afinal, menos consumo significa menos inflação, não é?), essa estratégia também resolve o problema da obesidade. Esqueça academias e exercícios caros! Agora, basta esperar o preço dos alimentos disparar e o emagrecimento virá de forma natural, quase espiritual.

Mas não sejamos ingênuos: essa recomendação é, acima de tudo, um insulto à inteligência e dignidade do povo brasileiro. Em um país onde milhões já vivem na insegurança alimentar, sugerir que simplesmente se deixe de comprar comida como solução econômica não é apenas uma demonstração de desprezo pela realidade social, mas um desrespeito brutal à luta diária de quem mal consegue colocar comida na mesa.

É uma inversão perversa de responsabilidades. O problema não está na população que consome, mas nas políticas públicas ineficazes, na concentração de renda e na falta de comprometimento do governo com a dignidade do seu povo. Se a lógica de “não compre para baixar os preços” fosse válida, bastaria parar de pagar impostos para reduzir a carga tributária, ou deixar de trabalhar para pressionar pelo aumento de salários.

A verdade é que essa proposta não passa de uma tentativa rasa e cínica de terceirizar a responsabilidade do Estado para o cidadão. Enquanto o governo se exime de agir, joga sobre a população o peso da crise. Mas o povo brasileiro, que já sobrevive a duras penas, merece mais do que um conselho vazio. Merece respeito, dignidade e, acima de tudo, comida na mesa.

 


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